Com rigor jornalístico e sensibilidade, série resgata o caso Escola Base

Trágico episódio de linchamento de reputação de inocentes, que destruiu sonhos de quatro pessoas acusada injustamente, ocorreu em 1994. Documentário em quatro capítulos tem reexibição a partir desta segunda, dia 3


Por Wagner de Alcântara Aragão, especial para a Revista Intertelas | De Niterói (RJ)

Tem reapresentação a partir desta segunda-feira, dia 3, a série documental “O caso Escola Base”. Dirigida por Paulo Henrique Fontenelle e produzida por Ariadne Mazzetti, a série é dividida em quatro capítulos.

A obra, lançada em junho pelo Canal Brasil, terá reexibição no mesmo canal. Além disso, estádisponível na plataforma de streaming Globoplay.

A série lança mão do rigor jornalístico – entrevistas bem conduzidas, fatos e dados muito bem explanados – para resgatar o triste episódio de linchamento midiático que arruinou vítimas. Outro ponto forte da série é a sensibilidade.

Os acontecimentos são relembrados e os relatos das personagens são apresentados com muita serenidade. “O caso Escola Base” não utiliza a tragédia para se promover como produto. Não há espetacularização nem sensacionalismo.

O que assegura coerência à obra. Afinal, “O caso Escola Base” trata justamente dos efeitos nefastos do jornalismo sensacionalista, sobretudo o policial, que marcava o contexto da época em que aconteceu o episódio.

Àquela altura, meados dos anos 1990, na televisão explodiam em audiência telejornais policialescos de final de tarde (“Aqui e Agora” à frente). Nas bancas de jornais, vendiam como água os impressos dos quais, esprimidos, saía sangue, como se dizia (“Notícias Populares” como maior símbolo).

Foi nesse contexto em que, em março de 1994, uma denúncia de violência sexual contra crianças se tornou notícia sem apuração mais precisa dos fatos. Pesou a busca por Ibope na televisão e vendagem nas bancas de jornal.

O que começou tragicamente piorava a cada dia. Sem indício muito menos prova alguma, os donos da Escola Base, um estabelecimento de educação infantil no bairro da Aclimação, em São Paulo, foram acusados e condenados extraoficialmente. Repórteres, âncoras e comentaristas bradavam por punição numa onda de justiça com as próprias mãos muito típica da que vemos nas redes sociais nos dias de hoje.

Foram raras as vozes que mantiveram o pé atrás e, à medida que os dias ia passando, começaram a ir contra a maré. Luís Nassif foi um deles. É um dos entrevistados da série, e recentemente em seu programa diário na internet (Jornal GGN) conversou com o diretor, Paulo Henrique Fontenelle:

Na série, Nassif lamenta que, embora veículos de comunicação tenham sido condenados, e profissionais tenham feito mea-culpa, o jornalismo brasileiro parece não ter aprendido com o caso Escola Base. Anos depois, foram vários os episódios em que a retórica condenatória e justiceira se repetiu. O mais recente e representativo, o noticiário sobre a Lava Jato.


Imagem em destaque: a Escola Base, em 1994. Foto: reprodução de frame da série.




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