Reflorestamento natural garante sobrevivência da preguiça-de-coleira, guardiã da floresta

Estudo da Unesp em territórios da Mata Atlântica em Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro antecipa cenários futuros para essa espécie, importante para os ecossistemas


Por Aline Vessoni, do Jornal da Unesp | De Rio Claro (SP)

Diante da realidade do aquecimento global, o replantio de árvores em larga escala, visando a recuperação de florestas e biomas, pode ser o melhor caminho para mitigar mudanças climáticas e combater os diversos impactos sobre a biodiversidade.

No entanto, o processo natural de reflorestamento também pode apresentar certas vantagens em relação às florestas replantadas.

É o que demonstra estudo recente da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

O reflorestamento natural foi apontado como instrumento valioso para assegurar a existência das preguiças-de-coleira, conhecidas pelo nome científico de Bradypus torquatus (preguiça-de-coleira do Nordeste) e Bradypus crinitus (preguiça-de-coleira do Sudeste).

RESPONSÁVEIS PELA PESQUISA

A bióloga Paloma Marques Santos faz pós-doutorado no Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e é pesquisadora associada ao Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação (Leec), do campus da Unesp em Rio Claro, e do Instituto Tamanduá.

Ao lado de outros três pesquisadores do Leec, e de cientistas de outras universidades, ela liderou um estudo publicado no Journal of Mammology em que investigou como diversos cenários para o futuro da Mata Atlântica no contexto das mudanças climáticas podem afetar as condições de sobrevivência da preguiça-de-coleira.

AS PREGUIÇAS-DE-COLEIRA E A FLORESTA

Como espécies endêmicas da Mata Atlântica, as preguiças-de-coleira são altamente dependentes de floresta, sobretudo de florestas ombrófilas, onde os índices de chuva são elevados.

É do alto, nas copas, que elas se alimentam, se abrigam, se locomovem e dormem.

Por serem animais cuja temperatura corporal varia conforme o ambiente, elas recorrem às árvores para seus comportamentos termorregulatórios, escondendo-se nas copas nas horas mais quentes do dia e se aquecendo nos topos das mesmas, durante o período mais frio.

(Tais características, aliás, implicam que as mudanças climáticas terão impactos ferrenhos sobre essas espécies.)

GUARDIÃS

E os animais também desempenham uma função importante na cadeia alimentar, servindo de presas aos chamados predadores de topo de cadeia, categoria que inclui felinos e grandes aves de rapina.

“Percebemos que a presença destes animais indica que a mata está saudável, que possui uma estrutura um pouco mais complexa e completa. Por isso são consideradas guardiãs das florestas”, diz.

Para a pesquisa que resultou no artigo, Paloma investigou duas diferentes populações de preguiças-de-coleira: a preguiça-de-coleira do Nordeste, que habita as florestas de Mata Atlântica nos estados de Sergipe e Bahia, e a preguiça-de-coleira do Sudeste, que ocorre na Mata Atlântica do Espírito Santo e do Rio de Janeiro.

Na análise, ela empregou modelos de nicho ecológico – desenvolvidos no Leec – com o objetivo de elaborar estimativas de quais serão, nestes estados, as áreas florestais adequadas para a existência desses mamíferos no ano de 2070.

VARIÁVEIS CLIMÁTICAS

No estudo conduzido por Paloma Santos e seus colaboradores, eles partiram das variáveis climáticas que impactam o habitat das preguiças-de-coleira, tais como, altitude, precipitação, temperatura e sazonalidade, somadas a variáveis espaciais, como a cobertura florestal e cobertura de pastagens.

Dessa forma, eles puderam chegar a resultados de adequabilidade ambiental favoráveis para as espécies.

COMBINAÇÕES

As combinações resultaram um total de 38 modelos, ou 19 para cada uma das duas grandes áreas geográficas analisadas.

Por apresentarem semelhanças, alguns modelos foram combinados, até que restaram o modelo atual mais três cenários futuros.

Além do modelo atual, há um primeiro cenário com mudanças climáticas e nenhum tipo de regeneração florestal; o segundo, com mudanças climáticas e regeneração natural mínima e o terceiro que aponta para um cenário de mudanças climáticas e máxima regeneração florestal.

Clique aqui para conferir o artigo científico na íntegra.


Imagem em destaque: preguiça-de-coleira na Mata Atlântica. Foto: divulgação Jornal da Unesp




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