Um parque de esperanças

Parque Nacional do Iguaçu abriga 89 espécies do inseto, sendo oito nunca registradas, revela pesquisa desenvolvida na Unila. Biodiversidade local, porém, está ameaçada por projeto de reabertura da Estrada do Colono


Da Unila | De Foz do Iguaçu (PR)

Conhecido pelas majestosas Cataratas do Iguaçu, o Parque Nacional do Iguaçu guarda outros tesouros em seus 1.850 km².

Um desses tesouros foi revelado em um artigo publicado recentemente na revista internacional Zootaxa.

O parque é, atualmente, a unidade de preservação brasileira detentora do maior número de espécies do inseto conhecido como esperança (família Tettigoniidae).

São 89 espécies em cinco subfamílias.

O artigo é resultado da pesquisa de mestrado realizada pelo biólogo Marcos Fianco, mestre em Biodiversidade Neotropical pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).

O resultado do estudo reforça a importância da preservação do Parque Nacional do Iguaçu, um dos poucos locais de conservação de Mata Atlântica.

O CANTO DAS ESPERANÇAS

Marcos Fianco fez um inventário de todas as espécies de esperanças que habitam o parque e registrou o canto de 34 delas.

Dos 89 tipos de esperanças encontrados, pelo menos oito são novos para a ciência e foram descritos recentemente.

Além disso, o som de 29 espécies até então desconhecidas foi gravado pela primeira vez.

O estudo demonstrou ainda que o Paraná é o segundo estado com o maior número de espécies de esperanças conhecidas, com 94.

Antes da pesquisa, a ciência apenas reconhecia a existência de 19 espécies no estado.

“Durante a pesquisa, várias espécies foram encontradas pela primeira vez no estado e na Região Sul do Brasil, sendo que alguns registros são inéditos mesmo para o país”, salientou Fianco, que atualmente é doutorando em Entomologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O artigo tem como coautores os professores Neucir Szinwelski (Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste) e Luiz Roberto Ribeiro Faria Júnior (Unila), que foram orientadores de Fianco durante o mestrado.

CAMUFLAGEM

Algumas esperanças encontradas no Parque Nacional do Iguaçu chamam mais a atenção.

“Temos muitas espécies que mimetizam folhas, mas a de um dos gêneros, Typophyllum, possui uma camuflagem fantástica. Nesse gênero existem indivíduos marrons, parecendo folhas secas e deterioradas, e indivíduos verdes, se camuflando com folhas verdes”, conta Marcos.

O biólogo explica que essa camuflagem é uma estratégia de proteção. “O predador não vê a esperança e assim não come ela, simplesmente por não conseguir diferenciá-la do meio em que ela está, que são folhas secas ou verdes.”

IMITAÇÃO DE INSETOS

Embora o mais comum seja que as esperanças se pareçam com folhas, algumas imitam outros insetos.

A Scaphura nigra, por exemplo, mimetiza espécies de vespas na morfologia, coloração e comportamento.

“A esperança é um animal inofensivo e imita as características de um animal perigoso que possui ferrão como forma de proteção. Animais predadores tendem a não se alimentar por reconhecer, pela sua morfologia, coloração e comportamento, que essa esperança seria um inseto perigoso”, acrescenta o pesquisador.

PESQUISA TRABALHOSA

A característica de camuflagem desses insetos, essencial para sua sobrevivência, faz com que a pesquisa de campo com esperanças seja bastante trabalhosa.

Para conseguir fazer o inventário faunístico, Marcos Fianco passou quase 40 dias no parque, entre 2017 e 2019, coletando esperanças em pontos dos municípios de Foz do Iguaçu, Serranópolis do Iguaçu, Céu Azul e Santa Tereza do Oeste.

As coletas consistiram de busca ativa diurna e noturna com uso de armadilhas luminosas.

Depois, os insetos foram levados para os laboratórios da Unila, onde o pesquisador fotografou, analisou a morfologia e gravou o canto das esperanças.

“As características acústicas são importantíssimas na comunicação destes insetos. Nós, pesquisadores, podemos utilizar esses registros na área da Taxonomia para identificação e reconhecimento de espécies. Também usamos esses registros na área de Ecologia, podendo até serem utilizados em escalas maiores, como em estudo das mudanças climáticas, a exemplo do aquecimento global, sobre a dinâmica dos parâmetros acústicos e distribuição de espécies”, destaca.

AMEAÇA

O artigo na Zootaxa foi publicado no mês de maio.

Por coincidência, no mesmo mês, defensores do Projeto de Lei que pede a reabertura da Estrada do Colono (PL 61/2013) voltaram a fazer pressão para que o texto seja votado no Senado.

Fechada em 2001, a Estrada era uma via de 17 quilômetros que ligava dois municípios do Paraná, atravessando uma área de mata dentro do Parque Nacional do Iguaçu.

O Parque é considerado um dos poucos locais remanescentes de conservação da Mata Atlântica, que antes cobria mais de 1,3 milhão de km² e hoje está reduzida a apenas 7,3% desse total.

Para os coautores da pesquisa, os professores Luiz Roberto Faria Júnior e Neucir Szinwelski, a reabertura da Estrada do Colono pode trazer sérios impactos para a biodiversidade do parque.

Serviço | Para receber o artigo da Zootaxa que descreve as esperanças do Parque Nacional do Iguaçu, escreva para fianco.marcos@gmail.com


Imagem em destaque: o pesquisador Marcos Fianco e um detalhe de uma esperança. Foto: Unila




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