Pesquisa desenvolvida na UFRN envolveu dez cidades do Nordeste, Sudeste e Sul, e aponta formas de gestão sustentável das orlas
Por Júnior Teixeira e Juliana Holanda, do LabCAm-Agecom da UFRN | De Natal (RN)
O Brasil, com mais de 20 mil quilômetros de extensão litorânea, tem suas atividades turísticas historicamente concentradas nas zonas costeiras.
Porém, essa exploração tem gerado sérios impactos devido à utilização insustentável, tanto por parte da população residente quanto pelas práticas turísticas inadequadas.
O pesquisador Felipe Gomes do Nascimento, egresso do Programa de Pós-Graduação em Turismo (PPGT) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), realizou sua pesquisa de doutorado sobre a temática e apresentou importantes contribuições para o planejamento e o desenvolvimento sustentável de um dos maiores ativos turísticos do país: as orlas.
Em sua tese de doutorado intitulada “Turismo responsável para a gestão sustentável de orlas turísticas brasileiras”, Felipe investigou como o turismo responsável pode contribuir para a gestão sustentável das orlas no Brasil.
A pesquisa se debruçou sobre o “Programa Brasil, essa é a nossa praia”, lançado em 2019 pelo Ministério do Turismo como uma estratégia para promover a gestão responsável das orlas turísticas.
Assim, o estudo envolveu a análise de dez municípios brasileiros:
- Natal, no Rio Grande do Norte
- Barreirinhas, no Maranhão
- Cruz, no Ceará
- Salvador, na Bahia
- Vila Velha, no Espírito Santo
- Cabo Frio, Angra dos Reis e Paraty, no Estado do Rio de Janeiro
- São Sebastião, no Estado de São Paulo
- Imbé, no Rio Grande do Sul
Todos esses municípios receberam, no ano de 2021, apoio do programa para o desenvolvimento de Planos de Gestão Integrada (PGI) das orlas, que tinha como objetivo promover esses espaços de forma mais responsável e sustentável.
Nascimento conta que, a partir dessa definição, foi dado início à coleta de dados, procedimento realizado por meio de entrevistas feitas de forma híbrida.
Foram ouvidos representantes públicos responsáveis pela execução do projeto, sendo eles, em grande parte, secretários de turismo.
Ainda, incursões em campo em Natal, Angra dos Reis, Paraty e São Sebastião.
RESULTADOS
A pesquisa apontou que o turismo responsável, apesar de ser um conceito relativamente novo no Brasil, tem se mostrado um importante motor para a implementação de práticas sustentáveis e mais éticas.
O conceito promove, por exemplo, um maior envolvimento das comunidades locais no processo de tomada de decisões.
“Durante meu doutorado, pude perceber o grande potencial das orlas brasileiras e a necessidade de um turismo mais responsável. O trabalho de gestão das orlas envolve muitos desafios, especialmente por causa das pressões de interesse de diferentes setores, como o imobiliário e o turístico”, explica o pesquisador.
O turismo responsável, continua ele, vai além da promoção de práticas sustentáveis, incluindo também a discussão das responsabilidades dos diferentes agentes envolvidos, o que permite uma visão mais holística, focada tanto nas questões ambientais quanto nos processos participativos.
DESAFIOS
No entanto, a investigação também revelou que há desafios significativos para a implementação de práticas de turismo responsável.
Entre os principais problemas identificados estão a descrença da população nos processos participativos, a volatilidade política, a falta de continuidade administrativa e a limitada capacidade técnica das partes envolvidas.
Além disso, a escassez de recursos financeiros e os conflitos territoriais persistem como obstáculos para o avanço na gestão de orlas.
Felipe Gomes também observou que, embora seja reconhecida a necessidade de compartilhamento das responsabilidades no setor, frequentemente são transferidas de um ator para outro.
O estudo também identificou que, em alguns casos, gestores públicos ainda adotam uma participação simbólica, cumprindo formalidades governamentais ou visando apenas à obtenção de novos projetos, sem um real comprometimento com a gestão sustentável.
Por fim, o pesquisador sugere que o fortalecimento de associações e conselhos municipais, certificações, parcerias com instituições de ensino e colaborações público-privadas são fundamentais para o avanço das discussões sobre responsabilidade no turismo.
Ele destaca que essas estratégias podem contribuir para a criação de um modelo de gestão mais eficaz e sustentável para as orlas turísticas no Brasil.
Imagem em destaque: Praia da Pipa, em Natal. Foto: Cícero Oliveira/ divulgação RN
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