Laços de sangue. Por Sérgio Sérvulo da Cunha

“Se a nossa foi sempre uma aliança no bem, por que você escolhe, agora, adorar o paladino do mal?”

LAÇO DE SANGUE
Por Sérgio Sérvulo da Cunha* | De Santos (SP)

Muitos poetas e filósofos já tentaram, sem êxito, definir a amizade.

Amigo a gente escolhe. É mais do que o simples companheiro. aquele com quem gosto de estar, por quem tenho simpatia. É, antes de tudo, alguém que admiro pelas suas virtudes. Diga-me com quem andas, e eu te direi quem és.

Se é assim, por que, ao amigo mais próximo, do peito, de verdade, eu chamo de irmão?

O que tem a família – essa mera associação biológica – cujos membros não escolhi, de superior à escolha consciente e racional das amizades?  Que laços misteriosos são esses, de pessoas ligadas por suas origens?

Acho que a causa está justamente aí, no inconsciente. Somos o que a família é: a reunião nos laços permanentes do sagrado. A incondicionalidade da nossa solidariedade tem, na incondicionalidade do amor materno, a sua imagem e signo.

Mais do que o útero social – onde nos recolhemos para curar nossas feridas – a família é o testemunho de uma vida semelhante à dos anjos: onde nos absolvemos das nossas fraquezas, convivemos, conhecemos, amamos e perdoamos. Ninguém, na família, é patrulheiro do outro. Ninguém é seu juiz.
 
Irmão é quem pode estar em meu lugar. Aquele em cujo lugar eu posso estar. Aquele por quem sofro, de quem me orgulho, e de quem, se vacilar, me envergonho. Minha família é a melhor, assim como meu time e minha pátria. Amo-a, de um amor incondicional e cego, porque estou nela, porque sou ela.

Agora, irmão, não feche teus ouvidos à minha voz. Você não avalia o que me faz sofrer essa negativa, essa oclusão, esse fascínio por algo que nos é estranho. Você diz que vai votar em Bolsonaro, se recusa a expor suas razões, e pede respeito à sua opinião.

Não confunda o respeito que lhe tenho com o respeito pela sua opinião. Tenho direito, como irmão, a uma  justificativa. Se a nossa foi sempre uma aliança no bem, por que você escolhe, agora, adorar o paladino do mal?

Ninguém, hoje, tem dúvida, sobre a personalidade de Bolsonaro.

O bispo d. Mauro Morelli o definiu como um homem desequilibrado e vulgar. O New York Times o chama de “repulsivo”. E lhe caberia bem o qualificativo de cafajeste, se não fosse, antes disso, truculento, belicoso, defensor da tortura, de grupos de extermínio, e proponente de uma guerra civil.

Mamãe e papai votariam no capitão? Reflita duas vezes antes de cometer esse pecado, e de selar em meus lábios a frase que prefiro cuspir:” diga-me em quem votas e eu te direi quem és”.

Afinal, a escolha não é difícil: o currículo de cada candidato não deixa dúvida sobre quem é o melhor.

Imagem em destaque: A arte é de Chico Shiko, a qual faz uma alusão a mais uma declaração horrorosa do candidato Bolsonaro em contraposição a outra horripilante, da atriz Regina Duarte


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