Não há nada mais perfeito do que ser imperfeita. Por Nicole Zadorestki

As fakes news e o “fake body”: campanhas publicitárias que dizem “seja você”, mas trazem modelos que sequer se parecem com elas próprias

NÃO HÁ NADA MAIS PERFEITO DO QUE SER IMPERFEITA
Por Nicole Zadorestki* | De Santos (SP)

“A gente vive se comparando com esses corpos perfeitos na internet, mas posso te garantir que esses corpos não são como nas fotos.” (ELLORA HAONE, YOUTUBER)

O que são as fake news, perto do fake body?

Ao sair na rua, é evidente ver campanhas publicitárias em todo lugar, com a seguinte mensagem: “Seja você”. O problema se encontra quando nem as próprias modelos se parecem com elas.

Nem os produtos que são vendidos em imagens são parecidos com a realidade dentro da embalagem. Então por que se sentir mal por não corresponder à expectativa, mesmo que ela esteja fantasiada?

Na França, publicações publicitárias possuem um alerta de modificação, ou seja, se a imagem foi alterada por Photoshop, a legenda dirá que foi. Esta lei entrou em vigor em 2017 e até hoje está indo muito bem, pois busca preservar a realidade e a saúde mental da população.

Entre 1850 a 1900, a França estava com um movimento artístico e literário muito forte. O realismo, o oposto do romantismo retratava a realidade, o que ajudou o estudo histórico, pois não existia a ilusão, a construção fictícia ou imaginária dos artistas. Era a realidade nua e crua.

Há um tempo, os ícones de modelo social estavam na televisão e revistas. No entanto, atualmente os ícones podem ser qualquer pessoa, inclusive você. As mídias sociais são uma ferramenta incrível e ninguém pode negar isso.

O que não se pode negar é que mesmo onde não há um padrão, existe. Nas redes sociais existem dois extremos, do amor ao ódio, onde a todo momento algo está sendo exposto e reforçado.

“Use esse produto e você ficará bela.”

Beleza é algo relativo estudado por diversos teóricos, sendo até os dias atuais considerado um tema reflexivo. Oras, se a beleza é relativa e pessoal, por que existe essa insegurança do ser humano, em que é seu dever ser algo padronizado e imagético até na fila do pão?

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil está em primeiro lugar em casos de transtornos de ansiedade e o quinto em casos de depressão. Esta taxa é alarmante, pois significa que todo ano mais pessoas passam por isso.

Na visão da psicologia positiva ou do holismo, a saúde mental inclui a apreciação pela vida, e o equilíbrio físico/emocional. Quando se fala sobre, algumas pessoas ainda veem o termo como uma doença, mas a saúde mental é vital para a vida da humanidade, sendo problema de saúde pública que deve ser discutido urgentemente.

A Royal Society for Public Health (RSPH), em estudo denominado Status of Mind, pesquisou sobre o efeito das redes sociais na saúde mental nos jovens, identificando que problemas como a ansiedade e depressão vem crescendo, tendo como uma das causas o uso excessivo das redes sociais.

A adolescência é um período conturbado, quando muitos jovens acabam se isolando com ferramentas próximas, como as redes sociais. Contudo, não se pode dizer que este mal afeta somente esta faixa etária. Dentro da internet o mundo sempre parece mais bonito, e muitas pessoas soam com a vida menos problemática. A verdade é que enquanto elas postam que estão bem com seu corpo e com elas mesmas, o que ocorre verdadeiramente é totalmente diferente.

Quem é você na fila do pão?

Pode ser uma mãe, um filho e uma avó, ou até mesmo a família inteira. São pessoas normais que andam de moletom, pantufas e tomam café no lanche da tarde. Todas essas pessoas na fila do pão, podem pensar e sofrer do mesmo mal, que é sentir-se insatisfeitas com o que veem no espelho, que o corpo não é bonito porque não está na capa de uma revista e portanto, não merece ser amado.

A youtuber Ellora Haonne, considerada símbolo social dentro das mídias sociais, fez um vídeo como diversos youtubers com o tema “Tour pelo meu corpo”. No vídeo, ela mostra suas “imperfeições” e truques utilizados por youtubers, retratando que ela é uma pessoa comum, assim como o telespectador que a vê.

Escrevo quando a campanha Setembro Amarelo está em vigor, e a partir disso escrevo para dizer que amar-se é além de rostos maquiados e fotos publicitárias editadas.

Praticar o autoconhecimento é respeitar-se, conhecer-se e amar-se. É não se sentir mal por ver pessoas postando coisas e questionar se sua vida ou beleza é tão interessante quanto. Muitas pessoas postam estar comendo no Mc Donalds e Outback, sendo que seu cotidiano não é estar ali diariamente. Você não precisa gastar o dinheiro que talvez não tenha, com coisas que não precisa para mostrar para pessoas que não gosta ou não liga.Você deve se sentir bem consigo nos piores e melhores dias. Que tal respeitar sua individualidade além do que lhe é mostrado? Entender que há dias que seu cabelo está desarrumado e a vida é assim mesmo. Há dias em que o ônibus chega rápido e dias em que ele passa sob uma poça de água te molhando, e está tudo bem. A vida é um ciclo e nessa montanha-russa, a única pessoa que estará com você nos melhores e piores dias é VOCÊ MESMO.

Escrevo quando a campanha Setembro Amarelo está em vigor, para dizer que amar-se é além de rostos maquiados e fotos publicitárias editadas.  A tecnologia existe para auxílio e não dominação da sua saúde mental.

Ser você mesmo é afora de ser algo na internet ou reprodução de moda. É respeitar seus ciclos. O belo é abraçar suas estrias, suas cicatrizes, suas manchinhas, é abraçar tudo. Se abraçar por inteira. Se amar do jeitinho que é, com todas imperfeições que falam que precisam de tratamento.
Não há nada mais perfeito do que ser completamente imperfeita.

* Nicole Zadorestki é estudante de Jornalismo e integra a equipe de produção audiovisual do Instituto Querô, em Santos.

Imagem em destaque: a youtuber Ellora Haonne


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