Muita soja. Pouco emprego e renda. Falta de arroz e feijão

Monocultura do agronegócio prejudica alimentação e a economia real. Reforma agrária é cada vez mais necessária


Por Catarina Barbosa, do Brasil de Fato | De Belém (PA)

A Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), organização social que existe há 60 anos, lançou em abril dossiê que analisa a cadeia da monocultura da soja.

O documento faz um alerta: com esse modelo de agronegócio, há risco de faltar arroz e feijão na mesa do brasileiro.

Ocorre que a expansão acelerada da commodity [produção feita para se lucrar em dólares no mercado internacional] compromete o abastecimento de alimentos básicos.

A pesquisadora Diana Aguiar, do Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), lembra que a soja é o carro-chefe do agronegócio no Brasil.

Apenas dois produtos – soja e milho – representam 90% de toda a safra de grãos no país [dados de 2020], informa a especialista.

Ela lista os efeitos negativos dessa concentração apenas nesses dois grãos:

“A gente não pode esquecer que essa é uma produção essencialmente baseada na adoção de pacotes tecnológicos, que envolvem organismos geneticamente modificados, agrotóxicos, fertilizantes químicos e maquinário. Pacotes que são controlados por um número cada vez mais reduzido de corporações transnacionais, em razão das fusões e aquisições, por exemplo, da compra da Monsanto pela Bayer ou da Syngenta pela ChemChina e também a produção comercializada por um número reduzido de corporações as chamada tradings como a Cargill e a Bunge.”

Assim, o ônus produção fica com o Brasil, mas os lucros vão para o exterior, sede dessas corporações transnacionais.

Segundo dados apresentados no documento, em 40 anos a produção brasileira de soja foi ampliada em dez vezes, saltando de 12 milhões de toneladas, em 1977, para quase 125 milhões de toneladas em 2020.

O dossiê traz ainda as consequências desse modelo para a autonomia e diversidade produtiva do país, assim como para o incremento da concentração de renda e desigualdade.

Isso sem falar nas consequências ambientais, como o desmatamento e contaminação por agrotóxicos, a exaustão hídrica e erosão da biodiversidade.

PROBLEMAS SOCIAIS

Também são impactantes as consequências sociais, como a concentração fundiária e a violência no campo associada a grilagem, o que afeta populações locais de indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais.

Além disso, fica cada vez mais difícil que a população tenha acesso a comida de verdade, saudável e variada.

A pesquisadora conta que não é incomum regiões importantes para produção de commodities para exportação dependa da compra de alimentos de outras regiões para alimentar sua própria população.

REFORMA AGRÁRIA PARA MUDAR

“As formas que podem ser tomadas para mudar isso envolve múltiplos caminhos, que vão desde a mais profunda necessidade de superação dessa cadeia monocultural da soja e de outras commodities em suas expressões tanto nos campos quanto nas mentes até a retomada de políticas públicas de apoio a agricultura familiar e camponesa sem esquecer da titulação de territórios indígenas e tradicionais e da sempre necessária e mais do que nunca necessária: reforma agrária”, sublinha a pesquisadora.


Imagem em destaque: carregamento de farelo de soja no Porto de Paranaguá (PR). Foto de Cláudio Neves/Fotos Públicas



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