Websérie traz a luta do povo por direitos humanos

A marisqueira Maria de Fátima e do cacique Ramom Tupinambá, ambos da Bahia, estão entre as lideranças retratadas no projeto “Humanos por Direitos”; confira como assistir


Por Jéssica Carvalho, do Edgar Digital | De Salvador (UFBA)

Setenta e cinco por cento das mortes de defensores e defensoras de direitos humanos na América em 2016 ocorreram no Brasil, de acordo com relatório da Anistia Internacional de 2018.

Cidadãos que lutavam pelo direito à terra e pela vida de mulheres e jovens negros, líderes comunitários, defensores do meio ambiente e ativistas que buscavam garantias previstas legalmente: o direito à vida, à terra, à igualdade e à dignidade humana.

Apesar de tantas trajetórias interrompidas, o esforço de muitos outros torna a luta por essas garantias ainda possível.

É o caso dos cinco personagens da websérie “Humanos por Direitos”, obra produzida pelo Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania (CCDC), órgão complementar da Universidade Federal da Bahia (UFBA) sediado na Faculdade de Comunicação.

O webdoc mostra como defensoras e defensores de direitos humanos na Bahia têm resistido e levado adiante suas pautas, em um cenário político e social adverso.

A produção teve início em 2019, após a aprovação em edital de experimentação artística da Pró-reitoria de Extensão da UFBA.

IDEIA

A ideia era destacar as lutas por direitos humanos na Bahia a partir da vivência de pessoas invisibilizadas pela mídia tradicional, conforme explica a pesquisadora Tâmara Terso, responsável pelo argumento e pesquisa do documentário.

“Desde 2017, o Brasil figura nos rankings internacionais com índices alarmantes de crimes contra defensores de direitos humanos. Essa situação, de 2017 para cá, só vem se agravando e, em contrapartida, a visibilidade dessas mortes não acontece”, explica a argumentista.

POVOS TRADICIONAIS

Neste ano, de acordo com Tâmara, agregam-se ao cenário já extremamente perigoso aos defensores de direitos humanos outros problemas que têm dificultado a sobrevivência de povos tradicionais, da população negra, de quilombolas e outros povos na Bahia.

“Esse documentário estreou em um momento crucial, em que estamos sofrendo mais um genocídio do ponto de vista das mortes por covid-19, intencionais diante da ausência de políticas públicas. São essas pessoas que também estão presentes na obra, que denunciam e estão sendo vítimas de violações”, expõe Tâmara.

Não à toa, o dia de Luta Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, celebrado em 21 de março de 2021, foi escolhido para o lançamento do documentário.

Uma das vozes presentes no documentário é a de Maria de Fátima Lima Ferreira, marisqueira que desde 2019 sofre com os efeitos do vazamento de óleo na costa brasileira.

Somada às consequências do desastre, Maria de Fátima e sua comunidade, o Quilombo Alto do Tororó, estão sendo ameaçados pela instalação de empresas na Baía de Aratu, o que compromete o equilíbrio ambiental do lugar e afeta a sobrevivência da comunidade.

No documentário, o pedido de Maria de Fátima é feito em alto e bom som: “Parem de nos matar. Somos nós que botamos o alimento de vocês. É o pescador, é o povo da roça”.

INDÍGENAS

O pedido é endossado pelo cacique Ramon Tupinambá, liderança do território Tupinambá de Olivença que figura no primeiro episódio de “Humanos por Direitos”.

“O nosso povo, desde o princípio, sempre sofreu com tudo isso. Hoje, no século XXI, nada mudou. Mudam-se apenas as práticas. As cidades cresceram dentro de territórios indígenas e o nosso território vem sendo tomado”, descreve o Cacique.

A liderança explica, ainda, que os Tupinambás de Olivença tiveram a terra delimitada, um dos processos da demarcação da terra pertencente aos indígenas, mas que estão sofrendo com interesses financeiros que buscam dar outra destinação ao lugar.

A busca por garantir o direito ao território de seu povo é uma das pautas da liderança.

“Acredito que, como povo originário, muito pouco nos foi consultado, e às comunidades tradicionais, sobre nossa relação com a terra, que para a gente é sagrada. Para o colonizador é diferente. A terra é instrumento de manutenção de poder e posse e desde sempre existiu essa caminhada colonizatória no país”, afirma.

SOBRE O PROJETO

O webdocumentário Humanos por Direitos faz parte do braço de extensão desenvolvido dentro do Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania (CCDC/Facom-UFBA) que, desde 2008, atua no monitoramento de violações de direitos na mídia.

O caráter extensionista da atividade é demonstrado pela aproximação com os atores sociais a partir de suas próprias comunidades.

“Tentamos não reproduzir uma intervenção da universidade no lugar e não enxergar essas comunidades como um tubo de ensaio. Fazer o documentário foi um aprendizado muito grande de aprofundamento do conhecimento, da pauta, como uma aproximação dos movimentos sociais”, sublinha a pesquisadora Tâmara.

DIREITO À COMUNICAÇÃO

Além de visibilizar cada uma das pautas, o webdoc também teve como propósito voltar o olhar para o direito à comunicação — não apenas o de receber a informação, como produzi-la  —, como um direito humano fundamental.

Os episódios de Humanos por Direitos podem ser acompanhados semanalmente no perfil do instagram do CCDC, com lançamento às quintas-feiras. Mais informações sobre o Centro, podem ser acessadas no site do órgão: www.ccdcufba.com.


Imagem em destaque: cartaz de divulgação da websérie documental.



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