Território de SP abriga 40% das espécies de aves do Brasil; catálogo ajuda na conservação

Equipe da USP, do Instituto de Pesquisas Ambientais e da Unesp atualiza lista que estava em vigência desde 2011; confira impactos da iniciativa


Por Yasmin Constante, do Jornal da USP | De São Paulo (SP)

Uma lista de todas as aves que habitam o território do estado de São Paulo foi atualizada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Pesquisas Ambientais e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A nova edição cataloga todas as 863 espécies, abrangendo 31 ordens e 93 famílias, e indica o registro de referência para cada uma delas.

Além disso, a publicação coloca 125 espécies ameaçadas de extinção e 20 que já são consideradas regionalmente extintas.

A partir da atualização, o estudo pode ajudar a desenvolver políticas de conservação.

O território do estado de São Paulo é habitat de até 40% das espécies brasileiras, mas também o que tem mais espécies extintas e ameaçadas.

REVISÃO DEPOIS DE QUASE 15 ANOS

Um catálogo parecido foi publicado em 2011, mas a sua revisão foi necessária porque o material não incluiu outras espécies registradas ao longo do tempo.

Em comparação com o trabalho anterior, o estudo, publicado na revista Papéis Avulsos de Zoologia, acrescenta 76 novas espécies e subespécies.

Os pesquisadores também reavaliaram as que estavam descritas nas listas anteriores.

O trabalho é um dos pioneiros a reunir as espécies e subespécies – subgrupos com características ligeiramente diferentes dentro das espécies.

Segundo o pesquisador Luís Fábio Silveira, curador da Seção de Aves do Museu de Zoologia (MZ) da US, a presença de subespécies refina o nível de análises.

CONHECER PARA PROTEGER

A pesquisadora Stephanie Lee, mestranda do Instituto de Biociências (IB) da USP e primeira autora do artigo, diz que o trabalho integra o princípio de “conhecer para proteger”, ou seja, é o ponto de partida para que as demais ações de pesquisa e de conservação sejam efetivas.

Uma das bases para o desenvolvimento da nova lista foi a revisão dos registros ornitológicos e da publicação de 2011.

Além disso, bancos de dados e coleções de museus foram acessados. “Foi um pente-fino por bastante tempo para conferir todas as espécies e subespécies que ocorrem em São Paulo”, explica Lee.

CERRADO E MATA ATLÂNTICA

A diversidade de tipos de vegetação (Cerrado e Mata Atlântica) e de clima faz com que o território do estado de São Paulo abrigue cerca de 40% das espécies de aves do Brasil,  mas a perda de habitat é a principal causa de ameaça à extinção.

Por ser também o estado mais populoso, São Paulo é muito explorado e, com o tempo, os ambientes naturais foram desaparecendo.

“São Paulo tem um número muito grande de aves, que chega a quase metade das espécies do País todo. Por outro lado, é o estado que tem o maior número de espécies extintas e ameaçadas de extinção no país”, afirma Silveira.

Segundo Stephanie, o Cerrado conta, atualmente, com apenas 3% de remanescentes naturais.

“Muitos dos bichos que estão ameaçados no estado de São Paulo são justamente os que dependem desse ambiente”, completa.

REGISTROS ANTIGOS

Ainda de acordo com a pesquisadora, algumas espécies extintas no estado têm apenas registros muito antigos: algumas das amostras de peles são do século XIX, por exemplo.

As espécies estão divididas entre lista primária, secundária e terciária, de acordo com a metodologia do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos.

A lista primária confere o maior grau de confiabilidade, contemplando registros documentados e verificáveis independentemente, enquanto a lista terciária se refere a registros que foram descartados.

CONSERVAÇÃO E AMEAÇAS

A pesquisadora explica que o estudo pode contribuir significativamente para a conservação, porque a partir dela é possível garantir que todas as espécies sejam levadas em consideração.

“Se a gente não sabe que determinada espécie ocorre aqui em São Paulo, como ela vai ser avaliada na lista de fauna ameaçada do Estado?”, destaca.

Segundo a lista de fauna ameaçada do Estado de São Paulo, publicada em 2018 pelo Decreto Estadual n° 63.853, são 125 as espécies ameaçadas; 20 já são consideradas regionalmente extintas.

Stephanie Lee aponta que essa lista já se encontra desatualizada e que o Governo do Estado trabalha para lançar uma nova versão. Ela complementa apontando que muitos dos animais que são considerados criticamente ameaçados provavelmente já desapareceram.

O artigo, intitulado “Updated checklist of the birds of São Paulo State, Brazil” está disponível neste link.

Mais informações: stephanielee@usp.br, com Stephanie Jin Lee, e lfs@usp.br, Luís Fábio Silveira.


Imagem em destaque: papagaio flagrados pelos pesquisadores. Foto: Luís Fábio Silveira/ USP


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