Descoberta sobre o primeiro leite humano pós parto reforça a importância da doação e oferece novas estratégias para melhorar o cuidado com bebês prematuros
Da UFF | De Niterói (RJ)
Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) traz uma descoberta inédita sobre a qualidade nutricional do colostro, o primeiro leite produzido pelas mães logo após o parto.
A pesquisa identificou que a idade materna, o tipo de ordenha e o momento em que ela é realizada influenciam diretamente o teor de gordura presente no colostro, o que pode ter implicações importantes para a saúde neonatal, para a amamentação e para a gestão dos bancos de leite humanos.
Publicado com o título “Relationship Between Maternal Age and Macronutrient Content of Colostrum”, o artigo é assinado pelos pesquisadores Alan Araújo Vieira, vice-coordenador do Mestrado Profissional em Saúde Materno Infantil da Faculdade de Medicina da UFF (PPGMESP-MI-UFF), e Virginia Gontijo Abreu Hochman, médica do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP-UFF) e mestre pelo PPGMESP-MI-UFF.
COMO FOI FEITO O ESTUDO
O estudo comparou a composição do colostro de mulheres divididas em três grupos etários: menores de 20 anos, entre 20 e 34 anos e acima de 34 anos.
Cada grupo foi composto por 30 pessoas.
Os resultados evidenciaram que mães entre 20 e 34 anos produzem colostro com maior concentração de gordura, macronutriente essencial para o crescimento e desenvolvimento neurológico dos recém-nascidos.
“Nos chamou atenção que as mães da faixa de idade considerada mais propícia à gestação apresentaram leite mais gorduroso. Isso pode ser determinante para o desenvolvimento dos bebês, sobretudo os prematuros, que dependem muitas vezes de leite doado para sobreviver”, afirma o professor Alan Vieira.
“PRIMEIRA VACINA”
O colostro é um leite especial, produzido apenas nos primeiros dias após o parto. Denso, amarelado e altamente concentrado em proteínas, imunoglobulinas e fatores de defesa, é considerado por muitos especialistas como uma “primeira vacina” para o recém-nascido.
“O colostro é rico em anticorpos, especialmente a imunoglobulina A, que ajuda a proteger o bebê de infecções nos primeiros dias de vida. A literatura já chama isso de ‘imunoterapia’”, explica Vieira.
O pesquisador destaca que, por isso, o estudo se concentrou no colostro, período em que a mãe ainda está internada, o que facilita a coleta e o acompanhamento das amostras.
GLÂNDULAS MAMÁRIAS
De acordo com os autores, uma possível explicação para a maior concentração de gordura em mulheres entre 20 e 34 anos pode estar na maturidade das glândulas mamárias.
“A mama da mulher adolescente ainda está em desenvolvimento, e isso pode impactar a produção de leite. Já nas mães acima dos 34 anos, condições como hipertensão e diabete, mais frequentes nesse grupo, podem interferir na composição do leite, embora ainda não tenhamos dados conclusivos sobre isso”, aponta Vieira.
FORMA DE COLETA DO LEITE
Além da idade materna, a equipe da UFF já publicou artigos que apresentam como a forma de coleta do leite também interfere na sua composição.
Em um estudo anterior, os pesquisadores identificaram que a ordenha manual da mama resulta em leite com até 20% mais gordura do que a extração por bomba elétrica.
“Isso é um dado de ouro, porque, se um bebê prematuro está com dificuldade de ganhar peso, posso orientar a mãe a expressar o leite manualmente, aumentando a oferta calórica”, diz o pesquisador.
APÓS REFEIÇÃO
Outro achado importante é que o teor de gordura do leite aumenta significativamente após uma refeição.
Ou seja, orientar as doadoras a coletar leite duas a três horas após o almoço pode ser uma estratégia simples e eficiente para melhorar a qualidade nutricional do leite ofertado aos bancos.
“Ainda não temos certeza de todos os impactos, mas já sabemos que a alimentação da mãe, a hora do dia e até o método de ordenha fazem diferença. São informações valiosas para orientar as práticas dos bancos de leite”, completa Virginia Hochman.
PASTEURIZAÇÃO
A equipe está agora investigando como a pasteurização afeta estruturas microscópicas chamadas vesículas extracelulares, que carregam fatores imunológicos e biológicos.
Também estudam como a suplementação com vitamina A, ômega 3 e ômega 6 na dieta da mãe pode enriquecer o leite oferecido aos bebês.
“Já temos dados preliminares indicando que três horas após o consumo desses nutrientes, o leite da mãe apresenta maior concentração deles. Isso pode transformar a forma como lidamos com a nutrição de recém-nascidos em UTIs. A maioria dos prematuros extremos não consegue sugar no peito, e tampouco pode receber leite de vaca. O leite humano, quando possível, é o melhor alimento. Nosso trabalho é buscar formas de garantir que esse leite seja o mais nutritivo possível”, afirma Vieira.
DA CIÊNCIA PARA A POLÍTICA PÚBLICA
O impacto das descobertas não se limita à academia.
De acordo com os pesquisadores, o Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP-UFF) já adaptou rotinas com base nas conclusões dos estudos.
Mudanças como oferecer leite colhido manualmente após o almoço e adaptar a inclinação da seringa ao alimentar o bebê por gavagem, o que evita perda de gordura, já estão em prática.
“É isso que o mestrado profissional em Saúde Materno Infantil da UFF busca: usar evidência científica para resolver problemas concretos. Alimentar um prematuro com qualidade não é simples, e cada detalhe importa”, sublinha Vieira.
Imagem em destaque: trabalho em banco de leite humano de hospital da UFF, em Niterói. Foto: divulgação UFF
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