Entre eles, o herbicida atrazina, presente em todas as amostras, e o fungicida carbendazim, proibido no Brasil, mas identificado em 88% das coletas
Por Lidia Torres, especialista em Jornalismo Científico pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e doutoranda em Ciências Sociais, ambos pela Unicamp* | De Campinas (SP)
Um estudo publicado na revista Chemosphere identificou a presença de agrotóxicos na água da chuva coletada em Brotas, Campinas e São Paulo.
A pesquisa foi conduzida por Cassiana Montagner, do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ-Unicamp), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A pesquisa analisou amostras coletadas ao longo de três anos (2019–2021) e identificou 14 pesticidas e cinco compostos derivados.
Entre eles, o herbicida atrazina, presente em todas as amostras, e o fungicida carbendazim, proibido no Brasil, mas detectado em 88% das coletas.
O herbicida tebuthiuron, identificado pela primeira vez em água da chuva, apareceu em 75% das amostras.
[A partir de 3’22 no vídeo acima, reportagem do Repórter Eco, da TV CULTURA, sobre a pesquisa]
Parte dos agrotóxicos aplicados em lavouras pode ser transportada pelo vento e se depositar na atmosfera, retornando ao solo por meio da chuva.
O estudo correlacionou dados climáticos, como direção do vento e volume de precipitação, para entender a dispersão dessas substâncias.
Embora as concentrações não excedam os limites legais para água potável, alguns compostos não possuem padrões de segurança estabelecidos.
A exposição prolongada a baixas doses pode representar riscos à saúde humana e aos ecossistemas aquáticos.
ALTO RISCO
Entre os compostos mais preocupantes está o carbendazim, um fungicida banido no Brasil desde 2022 devido a seus efeitos carcinogênicos e disruptores endócrinos.
Apesar da proibição, ele foi encontrado em 88% das amostras.
Outra substância de destaque foi a atrazina, um herbicida utilizado na cultura de cana-de-açúcar e milho, presente em 100% das amostras.
A atrazina é associada a distúrbios hormonais e já foi banida na União Europeia, mas permanece em uso no Brasil.
O fipronil, inseticida tóxico para abelhas e com meia-vida prolongada em ambientes aquáticos (até 220 dias), foi detectado em 67% das amostras.
TRANSPORTE ATMOSFÉRICO
O estudo demonstrou que os agrotóxicos aplicados em lavouras podem ser carregados pelo vento e se depositar na atmosfera, retornando ao solo por meio da precipitação.
Fatores como velocidade do vento, umidade e temperatura influenciam essa dispersão.
Em Brotas, município da região central do estado de São Paulo, com forte atividade agrícola, a concentração de pesticidas foi mais elevada, mas mesmo na capital paulista, distante de grandes plantações, os compostos foram detectados.
A pesquisa utilizou técnicas de cromatografia e espectrometria de massa para identificar os compostos.
Agora, os cientistas investigam como os microplásticos presentes no solo agrícola podem transportar agrotóxicos para áreas ainda mais distantes, prolongando sua persistência no ambiente.
Clique aqui para ler o artigo científico na íntegra.
* Esta notícia contou com informações da matéria de Michele Fernandes Gonçalves, publicada na Agência Fapesp
Imagem em destaque: chuva na cidade de São Paulo. Foto de Paulo Pinto/ Agência Brasil
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