Baru, pequi sem espinho e até baunilha brasileira, para salvar o Cerrado

Pesquisas com espécies nativas do bioma, desenvolvidas pela Embrapa, promove culturas que não só atuam na conservação como ajudam na recuperação do bioma


Por Juliana Miura, da Embrapa Cerrados | De Planaltina (DF)

Pesquisas da Embrapa Cerrados – unidade da Embrapa voltada para o bioma Cerrado – demonstraram que existem mais de 120 espécies nativas com potencial madeireiro, ornamental, medicinal, forrageiro ou frutífero.

Elas podem ter usos variados, como recuperação de áreas degradadas, recomposição de reserva legal, formação de pomares comerciais, diversificação da produção, entre outros.

É o caso do árvore do baru, uma das espécies do Cerrado mais promissoras para o cultivo.

Seu uso é indicado em sistemas integrados, com a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), em substituição ao eucalipto, principal gênero usado nesses sistemas.

A vantagem dessa opção é que, além da madeira, o produtor terá uma valiosa semente, o baru, cuja demanda tem crescido nos últimos anos no Brasil e no exterior. Estima-se que a sua comercialização aumentará 25% entre os anos de 2019 e 2029, com crescente valor de mercado, e o Brasil é o principal país do mundo a produzir essa espécie.

ENXERTIA

Recentemente, pesquisadores da Embrapa Cerrados tiveram sucesso na enxertia de mudas de baru, possibilitando a multiplicação de árvores com características interessantes para produção.

A técnica permite que os produtores selecionem as melhores plantas para formar pomares uniformes, com alta produtividade, com menor prazo para início da produção.

A técnica tem sido muito usada para produção florestal no Brasil, proporcionando aumento da produtividade de florestas plantadas. Mas seu uso em espécies arbóreas nativas ainda é incipiente.

Com o resultado desse trabalho, a enxertia se mostra como uma boa opção para multiplicar espécies promissoras nativas do Cerrado.

UM PEQUI SEM ESPINHO

Outra opção para os produtores rurais do Cerrado, principalmente os que querem diversificar suas fontes de renda, é o cultivo do pequi.

O fruto, muito apreciado especialmente nas culinárias goiana e mineira, ganhou versão sem espinho, o que facilita seu consumo e o processamento da polpa por agroindústrias.

É a primeira vez que são lançadas cultivares de uma fruteira nativa arbórea perene do Cerrado.

Ao todo, são três cultivares sem espinho e outras três tradicionais – todas com elevada produtividade e qualidade de polpa.

As novas cultivares permitem a formação de pomares uniformes, com plantas de qualidade, precoces e produtivas.

BAUNILHA BRASILEIRA

Uma pesquisa que está no início, mas traz novas possibilidades para as comunidades do Cerrado, é a que está coletando baunilhas nativas pelo Brasil.

As espécies brasileiras têm características únicas capazes de conquistar mercados importantes, como o da alta gastronomia.

Hoje, a baunilha é a segunda especiaria mais cara do mundo, atrás apenas do açafrão.

A Embrapa reuniu mais de 70 amostras de orquídeas do gênero Vanilla – trata-se do primeiro banco de germoplasma de baunilhas do Brasil e o único do mundo a reunir um volume significativo de espécies na América do Sul.

As primeiras coletas foram feitas em áreas do Cerrado e da Mata Atlântica.

A partir desses materiais, será possível apoiar o melhoramento genético e subsidiar a domesticação da planta, para possibilitar plantios comerciais, além de garantir a preservação dessas espécies.

A cadeia produtiva da baunilha no Brasil ainda não está estruturada e sua exploração depende basicamente do extrativismo.

FRUTOS DA BAUNILHA

Com informações geradas pela pesquisa, está sendo organizada uma cartilha com conteúdo que vai da produção de mudas ao processamento dos frutos da baunilha.

Para além desse material, os pesquisadores pretendem domesticar a cultura como desenvolvimento de técnicas e protocolos de cultivo para substituição do atual modelo extrativista praticado hoje no País.

O Dia Nacional do Cerrado é celebrado em 11 de setembro. A data foi criada em 2003 para que a sociedade reflita sobre a importância de preservar esse que é o segundo maior bioma da América do Sul e do Brasil.

Reconhecida como a savana mais rica do mundo, o Cerrado brasileiro abriga uma das maiores diversidades do mundo, com mais de 11 mil espécies de plantas nativas já catalogadas.

ÁREA OCUPADA

O Cerrado brasileiro ocupa uma área de 2 milhões de Km², maior que os territórios da Alemanha, Espanha, Itália, França e Reino Unido juntos.

Abrange 22% do território brasileiro, presente nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal e áreas do Amapá, Roraima e Amazonas.

BERÇO DAS ÁGUAS

O bioma é considerado o berço das águas brasileiras.

Nele, encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul: Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata, o que garante também sua enorme biodiversidade de fauna e flora.

A data foi estabelecida em homenagem ao ambientalista, jornalista e artista Ary José de Oliveira, mais conhecido como Ary Para-Raios, que nasceu neste dia, em 1931, e foi um dos fundadores da Rede Cerrado.


Imagem em destaque: paisagem típica do Cerrado. Foto: Embrapa Cerrados



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