Descoberta coloca Sergipe no mapa mundial dos dinossauros

Pesquisadores da UFS identificaram fóssil como sendo o dente de um  espinossaurídeo; vestígios foram encontrados na zona rual de Japoatã


Por Josafá Neto, da UFS | De Japoatã (SE)

Um fóssil de apenas dois centímetros, com características dentárias na forma e na textura, colocou Sergipe no mapa dos dinossauros do Brasil e do mundo.

Trata-se do primeiro registro documentado do réptil no estado.

A descoberta do vestígio de aproximadamente 145 milhões de anos foi feita por cientistas da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

O fóssil encontrado em um afloramento de rochas na zona rural de Japoatã, município de 13 mil habitantes no leste do estado, foi identificado pelos pesquisadores do Laboratório de Paleontologia da UFS como sendo o dente de um espinossaurídeo.

PISTA

Relatos sobre a presença de depósitos marinhos fossilíferos, como bivalves e equinodermos, e de microfósseis, como foraminíferos e ostracodes, na formação geológica denominada Feliz Deserto, na bacia Sergipe-Alagoas, despertaram a curiosidade do biólogo Paulo Aragão para a caça aos dinossauros durante a graduação na UFS.

“A partir dessa pista e sabendo da existência do afloramento por morar na própria cidade, passei a ir ao local até três vezes por mês para fazer a coleta de material, desde restos de escamas até ossos fragmentados,” conta o biólogo, que é natural de Japoatã.

ESPINOSSAURÍDEOS

Após a realização de análises microscópicas no Laboratório de Paleontologia, foi possível confirmar a origem do material fóssil como sendo da família spinosauridae, ao comparar as características dentárias com outros achados da literatura paleontológica.

Os primeiros resultados foram publicados no Journal of South American Earth Sciences.

“Apesar do tamanho pequeno, o fóssil encontrado possui características específicas que permitiram a identificação, como o grau e a direção da curvatura que o dente forma e uma ornamentação chamada de flautas na coroa do dente,” explica o professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Alexandre Liparini. À época da descoberta, ele ensinava no Departamento de Biologia da UFS.

TAMANHO E PESO

Esses vertebrados pertenciam à família de dinossauros terópodes, que viveram no período conhecido como Cretáceo da chamada era Mesozoica na escala de tempo geológico.

Considerado o predador terrestre mais longo com registro fóssil, os espinossaurídeos tinham até 14 metros e chegavam a pesar até mais de sete toneladas.

O primeiro registro fóssil de espinossaurídeos foi descoberto pelo paleontólogo britânico Gideon Mantell, na formação geológica Wadhurst Clay, no Sul da Inglaterra, por volta de 1820.

Á época, ele identificou o fóssil com um único dente cônico.

FÓSSEIS EM SERGIPE

Há registros de fósseis de animais gigantes em Sergipe desde os anos 1990.

Duas vértebras e dentes de um lagarto do grupo dos mosassauros – répteis marinhos contemporâneos aos dinossauros que viveram há pelo menos 65 milhões de anos – foram encontrados no ano de 1996, no município de Nossa Senhora do Socorro, na região metropolitana de Aracaju.

EM CAVERNAS SERGIPANAS

Em 1997, paleontólogos fizeram a primeira descoberta de fósseis em cavernas sergipanas.

Eles localizaram um dente de tubarão e moluscos que viveram há cerca de 100 milhões de anos, quando a região era coberta pela água do mar, na Gruta da Raposa, no município de Laranjeiras, na Grande Aracaju.

Em 2009, por sua vez, o primeiro fóssil pleistocênico de um mamífero foi localizado na caverna Toca da Raposa, no município de Simão Dias, no Centro-Sul Sergipano.

Eram animais do grupo de gliptodontes, com aparência de um tatu gigante, que habitaram o planeta há mais de 10 mil anos.

MAPA DOS DINOSSAUROS

A descoberta inseriu Sergipe no mapa dos dinossauros do Brasil, uma vez que já havia o registro de fósseis do réptil em formações geológicas nos estados de São Paulo, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Paraíba, Minas Gerais e, mais recentemente, Goiás.

Além da interpretação paleontológica de vertebrados, o material fóssil também está sendo preparado para análises complementares no Laboratório de Progeologia da UFS com foco na paleogeografia, que busca reconstituir os ambientes geológicos do passado.

“No momento que entendermos as duas relações, vamos compreender a rota que esses animais estavam seguindo em termos de migração e as mudanças do planeta nesse intervalo de tempo de mais de 140 milhões de anos,” ressalta o professor de Geologia da UFS, Antônio Jorge Garcia.


Imagem em destaque: biólogo Paulo Aragão, responsável pela investigação da UFS | Foto: Josafá Neto/UFS




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