‘Lembrança’. Por G.O.Aragão

Ela nos invade sem escrúpulo ou gentileza; uma delas, a do juá e do juazeiro da Caatinga. E uma homenagem a três mulheres


LEMBRANÇA
Por Geraldo Oliveira Aragão* | Do Rio de Janeiro (RJ)

—-

Lembrança não se confunde com saudade, embora a primeira possa nos arremessar a segunda.

Digo isto porque a lembrança nos invade sem escrúpulo ou gentileza; involuntariamente permitimos que ela se instale ou somos estimulados por algum fato que ao ser noticiado guarda correlação com vivências experienciadas, adormecidas.

Lembranças são como frutos: doces, amargos, insossos “neutros” e até àquele que me enche de satisfação, pelo seu sabor sonoro: agridoce.

Tudo isso compõe um mosaico Divino, que se dito por poeta assume dimensão admirável, porque a arte é o melhor atributo que pode o espírito humano hospedar em benefício coletivo.

As minhas lembranças são um misto de tudo isso; muito mais que um saudosismo estéril que nos impede de ultrapassar o batente da porta para contemplar o horizonte do porvir.

Duas coisas me enchem de lembranças e saudade, uma é o juá, fruto do juazeiro, muito apreciado pelas raposas do sertão nordestino e por mim também. Foi este frutinho agridoce (mais acre do que doce) que me animou da prostração famélica, quando nem os corações bondosos dos devotos do Padim Ciço encontraram qualquer resíduo dos víveres das suas despensas para socorrer um cristão ainda em tenra idade.

O lirismo veio pela canção homônima de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, “JUAZEIRO”, composta em 1949, ano de nascimento deste que vos fala, (composto por José Machado Aragão e Cecília Maria Oliveira Aragão), quando implorava ao juazeiro revelar os motivos do sumiço da sua amada.

Era um pé frondoso que ficava nos fundos da casa de Seu Santana de Manoel do Rio, talvez nem exista mais fora da minha lembrança.

A segunda é um cacto pouco citado no cancioneiro popular: o FACHEIRO. Este para mim é o mais simbólico de todos, além de compor o cenário da caatinga com seus lânguidos braços apontando o Céu para os viventes pensantes, como fonte inesgotável de esperança, seja pela fé ou pela intuição, cumpre também, mesmo depois de morto, o sagrado papel de auxiliar o homem sertanejo na sua longa e escura caminhada noturna pelos varedos secos do seu Bioma. Também mereceu um olhar poético e filosófico, deste redator:

Aprendi a ler no mato
Sob a luz do candeeiro;
Foi com o Projeto Minerva
Que abri um novo aceiro.
Queimei a ignorância
Com a tocha do facheiro.

Ofereço este texto a três mulheres que empregaram suas melhores energias na prática do bem; na dignificação do SER HUMANO, embora mereçam mais do que posso oferecer:

– Dona ‘Pretina’ de seu Santana de Manoel do Rio.
– Dete de Zé Machado*.
–  Sá Maria de seu Valentim

Geraldo Oliveira Aragão
Rio, 02.03.21
———-
* ÚNICA VIVA



Imagem em destaque: juazeiro na Caatinga. Foto de Tamires Silva, 2008, Agência Embrapa de Informação e Tecnologia



 


GOSTOU DO MACUCO?

Ajude a gente a se manter e a continuar produzindo conteúdo útil. Você pode:
  • Ser um assinante colaborador, depositando qualquer quantia, com a frequência que for melhor pra você. Nossa conta: Caixa – Agência 1525 Op. 001 Conta Corrente 000022107 (Wagner de Alcântara Aragão, mantenedor da Rede Macuco). Ou pelo Pix: redemacuco@protonmail.com
  • Ser um anunciante, para expor seu produto, ou serviço que você oferece. A gente faz plano adequado à sua condição financeira, baratinho. Entre em contato pelo whatsapp 13-92000-2399
  • Para mais informações sobre qualquer uma das opções, ou se quiser colaborar de outra forma, escreva pra gente: redemacuco@protonmail.com

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

6 + 7 =