Projeto Bioágua Familiar, da UFS, viabiliza que quintal das residências se tornem áreas para agricultura ecológica durante todo o ano
Por Débora Melo, do Campus Sertão da UFS | De Nossa Senhora da Glória (SE)
Duas famílias que vivem no sertão sergipano tiveram significativo aumento de produção agrícola em seus quintais da ordem de 410,5%.
O aumento da produção é resultado do Projeto Reúso de Água para Fomento de Quintais Produtivos no Semiárido do Nordeste do Brasil: Produção e Renda, Empoderamento da Mulher Camponesa e Fortalecimento da Agricultura Familiar, posteriormente batizado de “Bioágua Familiar Sergipe”.
Coordenado pelo professor Antenor Aguiar, do Departamento de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de Sergipe (DEA/UFS), com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto promove uma tecnologia social chamada de Sistema Bioágua Familiar.
Assim, duas famílias que vivem na Colônia Hebert de Souza, localizada no município de Poço Redondo (SE), e no Povoado São Domingos, município de Feira Nova(SE), passaram a tratar de maneira adequada a água e reutilizá-la.
Depois do escoamento, as chamadas “águas cinzas” passam por um filtro biológico composto por húmus de minhoca, raspas de madeira, areia lavada, brita e seixo rolado.
Em seguida, a água é armazenada, bombeada e utilizada nos quintais produtivos das duas famílias, por meio de sistema de irrigação de gotejamento xique-xique.
“Após a construção dos sistemas de reúso de águas cinzas, uma das famílias introduziu em seu quintal novas culturas, chegando a plantar 13 espécies vegetais, enquanto a segunda família chega a cultivar 31 espécies em seu quintal produtivo”, comemora o professor Antenor Aguiar.
[Em outros estados nordestinos, há iniciativas semelhantes de Bioágua Familiar, como esta desenvolvida no interior pelo Instituto Federal do Ceará em Cratéus. O vídeo explica como funciona o reaproveitamento]:
De volta ao projeto da UFS, além do coordenador, a equipe conta com as pesquisadoras Patrícia Rosalba Moura Salvador, Thaís Nascimento Meneses, Felipe Tenório Jalfim, e com o estudante de Engenharia Agronômica Vitor Carvalho Santos.
“O uso da irrigação faz com que os quintais se tornem produtivos durante todo o ano e, por consequência, favorece o fornecimento constante de alimentos para as famílias. Além disso, o excedente da produção pode ser comercializado com a vizinhança, o que gera renda para os agricultores”, explica o coordenador do geral projeto.
AGROECOLOGIA
Antenor Aguiar acrescenta que por serem produzidas de acordo com os princípios agroecológicos, as frutas, verduras e hortaliças favorecem a segurança alimentar e ainda contribuem para a redução da poluição ambiental acarretada pelo despejo incorreto de esgoto doméstico.
Outro benefício da tecnologia adotada para a saúde da população é o destino correto das águas cinzas produzidas pelas famílias, que antes eram despejadas no meio ambiente sem qualquer tratamento prévio.
“A eliminação do efluente doméstico proporciona a redução de insetos, de sapos e de cheiro desagradável, o que eleva os níveis de saúde e a qualidade de vida. A chegada do reúso, além de responder à problemática ambiental junto com a assistência técnica, possibilitou a produção de cultivos agrícolas baseados nos princípios agroecológicos, tornando o quintal verde uma realidade no semiárido”, completa a professora Patrícia Rosalba, pesquisadora do projeto e responsável pelo trabalho desenvolvido referente às questões de gênero.
EMPODERANDO FAMÍLIAS E MULHERES
Além de ser sustentável e gerar renda, a tecnologia promove ainda o protagonismo das mulheres no processo produtivo.
É o que conta a professora Patricia Rosalba, que é também professora do campus do Sertão e coordenadora do grupo de pesquisa XiqueXique – Grupo de Pesquisa Gênero e Sexualidade.
“Apesar de terem frequentemente suas experiências e seu trabalho invizibilizados, as mulheres do campo têm papel fundamental na produção agrícola familiar. Assim, ao fomentar quintais produtivos, os sistemas de reúso de águas cinzas promovem não só o fortalecimento da agricultura familiar, mas também empoderam as mulheres camponesas, as quais passam ser responsáveis por uma parte maior ainda da renda de suas famílias”, resume a pesquisadora.
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Imagem em destaque: os frutos do projeto. Divulgação UFS
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