Os segredos da Suíça muito além do futebol

País é destino de dinheiro internacional sujo, porque sistema financeiro garante sigilo dos correntistas. Após pressões internacionais, mudanças começam a ser aplicadas

Com informações de Rafael Tatemoto, do Brasil de Fato | De Brasília

A seleção da Suíça dificultou a estreia do Brasil na Copa do Mundo da Rússia, neste domingo, 17 de junho. Na cobertura feita pela mídia hegemônica, muita referência aos relógios, chocolates e queijos do país. O elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) também chegou a ser mencionado. Uma e outra piada sobre “as contas” que corruptos costumam ter naquele canto da Europa até surgiram.

Mas ninguém toca na ferida.

A ferida é esta: o sistema financeiro da Suíça tem um peso impressionante para a economia do país. E é destino dinheiro de gente de toda a parte do mundo. As 200 instituições financeiras que operam na Suíça concentram 25% de todos os depósitos estrangeiros do planeta.

Historicamente, a Suíça passou a atrair as reservas de estrangeiros por conta do sigilo fiscal. Ou seja, o país mantinha os dados de seus correntistas em segredo. Por isso o sistema financeiro suíço é atraente para quem junta dinheiro ilegalmente: porque o anonimato é garantido.

A lei que instituiu punições à violação do sigilo foi instituída em 1934. Foi a partir da Segunda Guerra Mundial que o volume de recursos destinados à Suíça aumentou.

OURO DOS NAZISTAS

A maior parte do ouro capturado pelos nazistas foi depositado no Banco Nacional Suíço. A informação apenas seria confirmada décadas depois, em março de 2002. Naquele ano, foi lançado o relatório final da Comissão Bergier, formada pelo governo suíço em 1996, após contínuas críticas da comunidade internacional ao papel da Suíça durante a Segunda Guerra.

Em 2014, a Suíça fechou um acordo para se adequar aos padrões da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, que reúne as maiores economias do mundo) em diversas áreas, o que exigiu o fim dos padrão bancário baseado no sigilo fiscal. As alterações rumo ao fim do segredo de quem são os correntistas no país, entretanto, só começaram a ser aplicadas neste ano.

Neste intervalo de quatro anos, as contas suíças estiveram presentes em diversos escândalos brasileiros. Em 2015, a Suíça bloqueou as contas de diversos dirigentes da Fifa (Federação Internacional de Futebol) – entre eles os brasileiros Ricardo Teixeira e José Maria Marín – a pedido de órgãos de investigação dos EUA. Isso sem contar mega empresários e políticos com contas secretas no país.

A entidade internacional do futebol tem sede na própria Suíça, país que hospeda diversos outros órgãos – como Organização Internacional do Trabalho, Organização Mundial da Saúde, Unicef – por conta de seu histórico de neutralidade geopolítica. A mesma “neutralidade” que serviu como um dos argumento da Suíça durante o pós-Guerra para tentar justificar a razão pela qual recebeu o ouro do nazismo.

Imagem em destaque: Banco Nacional da Suíça (Swiss National Bank, SNB) em Berna. Divulgação SNB


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