Por que a intervenção militar é uma violência contra todos nós

Compartilhamos artigo da jornalista Hildegard Angel, didática ao relacionar a narrativa – construída pela mídia e pelo governo golpista até aqui – que criou o ambiente para tal intervenção no Rio de Janeiro

 

Intervenção militar no Rio é fim, não é consequência

Por Hildegard Angel*, de seu blog

Sabendo dessa súbita decisão de se intervir militarmente no Rio, temos que dar o devido crédito à Globo, que fomentou, através de seus veículos, esse clima de horror e insegurança na população do Rio de Janeiro, onde não parece que houve carnaval. Só crimes.

No último mês todos os telejornais da emissora iniciaram com crianças mortas em tiroteios no Rio. Todos. E flagrantes de assaltos. Três ou quatro imagens de celulares, que eles repetiam à exaustão. Carnaval do Recife só tinha frevo. Da Bahia, só axé. Do Rio, só destacaram violência, o carnaval vinha depois. Vergonha. Como os jornalistas da emissora se prestam a isso? Vão arder no mármore do inferno dos comunicadores.

Repetiram com requintes a campanha feita pela emissora contra o governo de Brizola, quando conseguiram satanizar os CIEPS com seu ensino em tempo integral.

 

Poucos Cieps restaram, mesmo assim sem mais a filosofia de ensino engendrada por Darcy Ribeiro (foto: @waasantista)

Projeto do visionário Darcy Ribeiro, que Brizola concretizou, e os jornalões, com grande eco da elite e da classe média, detonaram o que puderam.

Findo o governo Brizola, cresceu mato nos Cieps. Foram abandonados, junto com o sonho de uma juventude carente salva das ruas e do crime, através do tempo integral na escola, até sua profissão. Hoje temos aqueles menores – abandonados pela sociedade – feitos bandidos.

E ninguém se lembra. E todos reclamam disso, reclamam daquilo, mas não assumem as próprias responsabilidades, quer como mídia, quer como cidadãos.

Reclamar é bom, né? Distancia a imagem de quem reclama do problema e exibe apenas seu dedo acusador. Mas não custa lembrar que, no local do primeiro CIEP, o CIEP modelo, no Panorama Palace Hotel, no Morro do Cantagalo, em Ipanema, o que há hoje é a sede do Criança Esperança. E o que se disse quando lá se instalou a escola para crianças pobres, em local nobre, de grande visibilidade e bem perto da favela do Cantagalo? “Que absurdo! Vão enfiar um monte de pivetes ao lado da casa da gente em Ipanema pra assaltar todo mundo”. Pois é. Parece que “pivete” de Criança Esperança é mais bem-vindo do que os de escola pública.

E assim caminha a hipocrisia nacional, até… esta segunda campanha massiva e obsessiva contra o Rio, com fins e endereço certos: intervenção militar. Ela serve bem ao propósito de muitos, que gostam de brincar de guerra, de metralhar cidadãos (pobres e pretos, sobretudo), de matar sem ter que dar satisfação. Afinal, foi aberta a alta temporada de caça, com soldadinhos de chumbo já em marcha em direção à Venezuela…

*Hildegard Angel, ou Hilde, é jornalista, filha da estilista Zuzu Angel, morta pela ditadura militar por lutar por encontrar o corpo de seu filho – Stwart Angel, torturado e também morto pelo regime.


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