Os monstros da Beija-Flor

Escola de Nilópolis encerra desfiles aos gritos de “é campeã”. Mas com ela, pelo menos mais meia dúzia de agremiações fizeram apresentação digna de título

Por Wagner de Alcântara Aragão, com texto e fotos de Lindrielli Rocha Lemos

Explorando a dramatização em alas e alegorias, com forte denúncia das mazelas e das injustiças sociais e um dos sambas-enredos mais belos dos últimos anos, a Beija-Flor é a favorita ao título do Carnaval 2018, no Rio de Janeiro. Em duas noites de muito equilíbrio nas apresentações, a escola de Nilópolis conseguiu encerra os desfiles com algo mais.

Será a força da comunidade, como destacou o incansável Laila, diretor de Carnaval da Beija-Flor, em entrevista à Rede Macuco minutos antes de entrar na avenida? A constatação é a de que sim: o engajamento dos componentes foi conquistando setor a setor da Passarela do Samba Darcy Ribeiro. Ao final, na Praça da Apoteose, das arquibancadas populares veio o grito: “é campeã!, é campeã!”.

DISPUTA ACIRRADA

É muito provável que o título venha, mas há outras fortes candidatas ao troféu também. Só na segunda noite, de domingo para segunda, Portela e Imperatriz Leopoldinense fizeram desfiles dignos da tradição de vitória das duas agremiações. Alegorias bem acabadas, alas animadas e sambas que caíram no gosto do público deram a ambas escolas condições para almejar o título.

A sempre aguarda águia da Portela

O Salgueiro aposta na força do enredo e do samba. O início e o fim do desfile da escola da zona norte deixaram os espectadores impressionados. Entre os dois extremos, porém, alas com fantasias muito carregadas e carros alegóricos densos deixaram a apresentação um tanto pesado.

As grávidas no abre alas do Salgueiro

Ainda na mesma noite, muito criativo e animado o desfile da União da Ilha do Governador dá à comunidade a perspectiva de disputar uma entre as seis vagas para o Sábado das Campeãs. A homenagem a Miguel Falabella pela Unidos da Tijuca também sacudiu o sambódromo da Marquês de Sapucaí.

União da Ilha falou de comida – frutas, confeitos, cultura da culinária e gastronomia, comércio ambulante

MANGUEIRA, PADRE MIGUEL E PARAÍSO DO TUIUTI

Da primeira noite dos desfiles, Mangueira e Padre Miguel tiveram o melhor conjunto, e se credenciaram a ficar entre as seis. O grande destaque da noite foi, como noticiamos anteriormente, o desfile da Paraíso da Tuiuti. O samba-enredo comovente e a crítica política e social sem meias palavras – da escravidão do passado à precarização atual do trabalho, fruto do golpe no Brasil em 2016 – colocaram a agremiação nas rodas de conversa presenciais e nas redes sociais.

Os patos que financiaram o golpe

QUEDA

O nível técnico e artístico elevado das apresentações (o corte de verbas até foi percebido; mas o luxo e a extravagância de anos anteriores foram substituídos pela criatividade e a garra dos componentes) inviabiliza qualquer prognóstico definitivo sobre as escolas sujeitas à queda para o grupo de acesso. Império Serrano, com desfile ligeiramente mais modesto que as co-irmãs, e a Grande Rio, que teve carro alegórico quebrado e estourou o tempo de apresentação, são as que mais correm risco.

Até porque, uma que teoricamente entraria na avenida para garantir a permanência no grupo especial, a São Clemente, fez bem mais que isso. Se ficar entre as seis primeiras, será com justiça também. A escola homenageou a Escola Nacional de Belas Artes, de forma bem caprichada. O samba-enredo também cativou.

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