Enfrentar o racismo no meio esportivo

Debate entre Djamila Ribeiro e os atletas Arnaldo Oliveira (atletismo) e Iziane Marques (basquete) marcou o lançamento de um programa do Comitê Olímpico Brasileiro


Do COB | Do Rio de Janeiro (RJ)

“Racismo no esporte, prevenção e enfrentamento”.

Esse foi o tema da 12ª e última Live Especial do COB [Comitê Olímpico Brasileiro], realizada no último dia 24.

O debate online reuniu Arnaldo Oliveira, medalhista olímpico no revezamento 4x100m em Atlanta 1996; Djamila Ribeiro, escritora e filósofa; Iziane Marques, atleta olímpica de basquete, com mediação de Manoela Penna, diretora de marketing e comunicação da entidade.

A conversa marcou o lançamento do Programa de Prevenção e Enfrentamento do Racismo da entidade.

Arnaldo e Iziane comentaram suas experiências e lembraram que vivenciaram o racismo fora do esporte.

O medalhista olímpico de 1996 contou que em sua instituição social Projeto Futuro Olímpico ele ensina a igualdade. “No atletismo eu nunca sofri nenhum ato de racismo, pelo contrário, sempre tive o apoio de todos. Mas fora do atletismo sim”, afirmou.

Arnaldo Oliveira ressaltou que “isso precisa acabar”, lembrando se tratar de problema cultural.

“No atletismo eu aprendi como lidar com o racismo, a forma como enfrentar as situações de preconceito e discriminação. A pessoa não pode se achar superior por causa de sua cor. O esporte me ensinou bastante e hoje eu tenho um projeto social aqui no Rio de Janeiro que ajuda a tirar crianças de situação de risco. Temos brancos, negros, pardos e todos são tratados igualmente. Tentamos mostrar para eles que vamos seguir juntos, independente da raça, independente da cor”, declarou.

Iziane observou que dentro do basquete não enfrentou racismo, mas quando foi jogar no exterior, sim, foi vítima. Ela já atuou nos Estados Unidos e em países da Europa.

“Dentro do esporte eu me encontrei. Eu sofri racismo quando sai do meu país para jogar basquete. Sai de um país predominantemente negro para países brancos, onde eu via poucas pessoas negras. E ai eu senti um pouco mais essa questão racial”, relembrou Iziane.

Autora de diversos artigos e livros sobre racismo, consciência negra e feminismo, Djamila reforçou importância do tema e da educação para a pevenção.

“É preciso falar sobre racismo. A gente precisa se informar sobre racismo, sobre sexismo, ler sobre isso, entender como isso foi construído historicamente, por que isso orienta a nossa prática”, orientou a filósofa.

Djamila acrescentou: “Quando discutimos desigualdade a gente vai entender a necessidade de ter diversidade. A gente entende quais foram as construções sociais do racismo, como essas desigualdades foram descontruídas a gente se responsabiliza por essa mudança, mas isso passa, necessariamente por um processo de educação antirracista que é fundamental”.

PROGRAMA DE PREVENÇÃO

O Programa de Prevenção e Enfrentamento do Racismo surgiu do desejo do COB de seguir tratando de temas transversais e sensíveis ao esporte, uma vez que se torna urgente implementar princípios gerais de segurança, bem como promover um ambiente seguro, no qual todos os envolvidos no ambiente esportivo possam enfrentar e evitar qualquer tipo de violência.

O objetivo do programa é desenvolver ações de reflexão e discussão sobre a temática das relações raciais, na busca da prevenção, enfrentamento e superação das desigualdades criadas pela prática da discriminação racial.

O Programa de Prevenção e Enfrentamento do Racismo ganhará um curso em 2021.

“É importante a gente entender que racismo não é um tema específico, ele é estrutural na sociedade brasileira. Independente da área que a gente esteja falando, seja no esporte, seja no mundo corporativo”, frisou Djamila

A filósofa sublinhou ainda: “E é importante conhecermos as origens sociais da desigualdade. O racismo não é algo do campo somente do individual é uma estrutura que nega oportunidades iguais, que impede a mobilidade social, que desumaniza, que colocou a população negra em um lugar de inferioridade social. É importante a gente aprofundar esse debate e precisamos, infelizmente, entender o racismo em sua magnitude no Brasil”.


Imagem em destaque: reprodução de trecho do debate


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