Nem na pandemia o desmatamento da Amazônia vai cair

Alertas do Inpe apontam para crescimento de 35% por mês, em média, no primeiro trimestre deste ano. E aumento segue mesmo em tempos de confinamento.


Por Márcio Santilli, do Instituto Socioambiental (ISA) | De São Paulo (SP)

Em 2019, o desmatamento na Amazônia aumentou quase 30% em relação a 2018.

O dado refere-se ao período de agosto de 2018 a julho de 2019 e corresponde à taxa oficial do governo brasileiro, produzida pelo Programa Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número foi divulgado em setembro, quando explodiam as queimadas, provocando um grande escândalo mundial e agravando o isolamento internacional do governo de Jair Bolsonaro.

Outros dados do próprio Inpe, gerados pelo sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), indicam que a tendência de alta prosseguiu, a partir de agosto de 2019, apontando para um novo escândalo, quando for divulgada a próxima taxa anual oficial, no próximo semestre.

Ainda é cedo para se aferir qual será o impacto da chegada da pandemia do novo coronavírus sobre a floresta amazônica. Mas, neste ano, os alertas de desmatamento do Inpe, produzidos pelo Deter, aumentaram 50%, em janeiro, e 25%, em fevereiro, em relação aos mesmos meses do ano passado, mesmo antes do coronavírus. Em março, o aumento chegou a 30%.

Dados do Inpe

O desmatamento continuou crescendo enquanto o novo coronavírus já se alastrava por várias regiões.

Os primeiros meses do ano são os que menos influenciam o cômputo anual de desmatamento, pois ele é mais intenso no período de seca, que, na maior parte da Amazônia, ocorre entre abril e outubro.

Parece pouco provável que a recessão provocada pela epidemia resulte em redução do desmatamento até julho, em tempo de reverter a tendência de aumento na próxima taxa anual oficial do Inpe. A perspectiva de outro desgaste nacional e internacional persiste, mesmo com coronavírus, isolamento em massa e depressão econômica.

“Grileiros e especuladores de terra acham que o risco à saúde vale à pena. É, para eles, um bom momento para se aproveitar do patrimônio público. Eles colocam algumas cabeças de gado em um terreno, como se dissessem que ali há uma atividade produtiva, e vendem terras que são do poder público. É um lucro fácil”, advertiu Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em entrevista à revista Época.

Parece que o impacto da crise é bem menor sobre as quadrilhas que destroem as florestas do que sobre outras atividades econômicas.

A insistente incitação ao desmatamento que o presidente e outros agentes políticos vêm fazendo, desde o ano passado, embalou de tal modo grileiros, garimpeiros, madeireiros ilegais e outros predadores que nem mesmo a epidemia e a depressão econômica dela decorrente foram suficientes para estancar a gincana da devastação.

E a redução das operações de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), claro, reforça o sinal positivo para a impunidade.

Estando Bolsonaro eclipsado momentaneamente do poder, pode ser que o general Walter Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil, perceba que deveria convencer o presidente a nomear um ministro do Meio Ambiente que tenha credibilidade para mobilizar os fiscais do Ibama, articular-se com os estados e atuar durante os meses de seca para reverter a tendência de alta no desmatamento e evitar mais um enorme dano para a Amazônia e combalida imagem do Brasil.


Imagem em destaque: agricultura avançando para a floresta. Foto de André Villas-Bôas/ISA


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