Os cuidados para se diagnosticar câncer na infância

Especialista do Inca aponta quando sinais podem indicar a doença, e explica que na maior parte dos casos há cura.


Por Andreia Verdélio, repórter da Agência Brasil | De Brasília (DF)

No Dia Internacional do Câncer na Infância, lembrado em 15 de fevereiro (sábado último), o alerta do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é para os sinais e sintomas persistentes em crianças e adolescentes, mesmo aqueles que indicam para doenças comuns.

De acordo com a chefe da Seção de Oncologia Pediátrica do Inca, Sima Ferman, alguns estudos indicam que mais de três idas ao médico com o mesmo sintoma é uma situação que merece atenção especial.

Os sinais do câncer pediátrico, muitas vezes, são parecidos com os de doenças comuns entre crianças e adolescentes, por isso o diagnóstico é um grande desafio, segundo a especialista.

“Não significa que qualquer sinal e sintoma é câncer, mas toda criança precisa ser acompanhada pelo pediatra regularmente, toda queixa da criança precisa ser valorizada tanto pelos pais quanto pelos profissionais de saúde”, explica.

SINTOMAS

Alguns sintomas são palidez, manchas roxas, dor na perna, caroços e inchaços indolores, perda de peso inexplicável, inchaço da barriga, alterações nos olhos, dor de cabeça, fadiga, tontura e sonolência.

A previsão do Inca é que em 2020 sejam registrados mais de 8,4 mil novos casos de câncer em crianças e adolescentes.

Diagnosticar precocemente é importante pois não é possível prevenir o câncer infantojuvenil. A especialista sublinha à Agência Brasil que, na maioria das vezes, a doença em crianças e adolescente tem causa desconhecida.

“No adulto, por exemplo, a pessoa que fuma pode desenvolver câncer de pulmão, então são fatores ambientais e de estilo de vida que muitas vezes são associados ao aparecimento do câncer. Na criança, são fatores intrínsecos do seu próprio corpo. O que nós temos, então, que fazer, para conseguir a maior chance de cura, é um diagnóstico precoce”, adverte.

TRATAMENTO ESPECIALIZADO

De acordo com Sima, além da identificação precoce da doença, a grande preocupação é para onde encaminhar os pacientes, já que a maior parte dos centros especializados em oncologia pediátrica estão no Sudeste do Brasil.

Existem, atualmente, 317 unidades e centros de assistência habilitados no tratamento do câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas nem todos com atendimento especializado para crianças e adolescentes.

Os tipos mais comuns de câncer infantil são leucemias (câncer dos tecidos produtores de sangue) e tumores no sistema nervoso e linfomas (câncer do sistema linfático).

E o tratamento da criança é todo diferenciado. Segundo a médica do Inca, há um esforço tanto do governo quanto de organizações não governamentais de ampliar a rede de centros especializados pelo país para que o paciente não precise migrar para fazer o tratamento, que pode levar de seis meses a dois anos. “Mas isso ainda é perspectiva para o futuro”, afirma.

CURA

Em todo o mundo, o câncer representa a primeira causa de morte, 8% do total, por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos de idade. Mas com o diagnóstico precoce e o tratamento especializado, o câncer pediátrico é potencialmente curável. Nos países de alta renda, a cura chega a 80% dos casos.

“No Brasil e outros países de baixa e média rendas existe ainda uma lacuna em relação a esse percentual, principalmente porque, ainda, muitas crianças chegam ao centro de tratamento com a doença avançada”, lamenta Sima Ferman.

No Brasil a taxa de cura é de 65%.

Segundo a especialista, há muitas questões socioeconômicas que interferem no resultado do tratamento, pois impedem que o paciente cumpra as idas necessárias ao hospital.

“Por essa razão, sempre pensamos que, aqui no nosso país, não é só tratar a doença em si, mas temos que dar condições para os pacientes chegarem ao hospital”, pontua, citando entidades que oferecem casas de apoio, como o Instituto Ronald McDonald. A assistência social também é fundamental para que o paciente consiga as ajudas possíveis por meio do governo.

ESPERANÇA

A médica do Inca destaca ainda que os pais precisam estar conscientes da importância do tratamento ser feito na totalidade e precisam manter a esperança que o seu filho vai ficar bem.

“O câncer hoje em dia não é uma doença que a gente deve temer, mas sim é uma doença que é uma sinônimo de luta pela vida”, destaca a profissional.

Ela constata: “As crianças são surpreendentes. Muitas vezes os pais querem proteger seus filhos, quando, na verdade, eles dão muita força para seus pais”.


Imagem em destaque: A pediatra Vanessa Van der Linden, em atendimento de rotina. Foto de Sumaia Villela, Agência Brasil


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