O ato com Lula em Porto Alegre e em que o julgamento muda nossa vida

Lideranças políticas e sociais do Brasil e outras partes do mundo participaram da mobilização na capital gaúcha. Condenação do ex-presidente mexe com o futuro da nação

Por Wagner de Alcântara Aragão, texto e fotos

Uma multidão – foram estimadas mais de 70 mil pessoas – participaram no fim da tarde e início da noite desta terça-feira, dia 23, em Porto Alegre, de um ato em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Realizado na Esquina Democrática, tradicional ponto de manifestações na capital gaúcha, o evento contou com a presença do próprio Lula, que fez um discurso que mexeu com a massa.

“Tenho 72 anos de idade, mas energia de 30 e tesão de 20 pra continuar lutando”, afirmou o ex-presidente, que nesta quarta, dia 24, terá julgado seu recurso contra a condenação que sofreu do juiz de primeira instância Sérgio Moro. A absoluta falta de provas para a condenação tem sido motivos de críticas e evidencia o caráter político, e não jurídico, da Operação Lava Jato e suas sentenças.

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Não foi só em Porto Alegre que brasileiros e brasileiras – e mesmo estrangeiros – se mobilizaram em razão do julgamento que se avizinha. Em todas as regiões do país, em capitais e cidades do interior, manifestações têm sido realizadas nos últimos dias e serão repetidas nesta quarta.

Os menos envolvidos em política devem se perguntar: por que tanta energia dispensada? Em que esse julgamento muda a tão sofrida vida do cidadão comum – do trabalhador, da dona de casa, do estudante?

A condenação de Lula retira o ex-metalúrgico das eleições de 2018. Mas não se trata de um simples impedimento de um nome. Sem Lula no páreo, as pautas de interesse popular se fragilizam.

Com Lula, a revogação da “reforma” trabalhista, da “reforma” da previdência, da emenda constitucional que congela os investimentos públicos será colocada no debate e dificilmente um candidato que queira ganhar a eleição terá condições de defender essas medidas que só foram aprovadas porque temos, no momento, um governo ilegítimo, de exceção – fruto de um golpe.

Se o julgamento não mantiver a condenação de Lula e ele participar da eleição…:

  • Projetos populares e nacionalistas, como recuperação dos direitos trabalhistas, a devolução do pré-sal à Petrobrás, o restabelecimento de políticas públicas para mulheres, negros, LGBTs, o descongelamento dos investimentos públicos voltam com força. Lula ou outro ganhando vai ter de lidar com essa pressão e demanda.
  • A segurança jurídica estará restabelecida. A condenação de Lula em primeira instância se deu sem provas. Se ela for mantida, abre um precedente perigoso: qualquer cidadão estará sujeito a ser condenado mesmo que não se prove nada contra ele – apenas porque quem está julgando não gosta, não concorda com esse cidadão.

Se o julgamento mantiver a condenação de Lula e ele não participar da eleição…:

  • Vai ser muito difícil para o trabalhador e a trabalhadora verem recuperados direitos trabalhistas básicos retirados com a “reforma”. A outra “reforma”, a da previdência, que mexe com nosso futuro e sonhos, tende a ser imposta. O conservadorismo e o reacionarismo – e todas as consequências nefastas disso – se fortalecem.
  • O país viverá numa instabilidade jurídica que ameaçará a vida de todos nós. Se um líder mundial como Lula for condenado sem ter sido provado nada contra ele, imagina o que poderá acontecer para o cidadão anônimo, caso um dia alguém resolva persegui-lo por qualquer que seja a razão.

Como salientaram lideranças políticas que participaram do ato em Porto Alegre, e como disse o próprio Lula, trata-se muito mais do que o julgamento de uma pessoa e seus atos. Trata-se de condenar alguém para impedir que as ideias que esse alguém represente avancem. E essas ideias têm tudo a ver com o andamento de nossas vidas – nossos direitos, nossos projetos, nossas conquistas.


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