Pesquisa da UFJF, com financiamento da Anvisa, já publicada em revista científica internacional, vem sendo desenvolvida há mais de 20 anos
Da UFJF | De Juiz de Fora (MG)
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) as gorduras trans contribuem para o desenvolvimento de várias doenças, com destaque para as cardiovasculares. Esse tipo de gordura reduz o colesterol bom (HDLc) e eleva o colesterol ruim (LDLc), contribuindo para o aumento da prevalência e mortalidade por causas cardiovasculares. Em razão dos altos impactos negativos na saúde pública, a Anvisa normatizou a restrição do uso de gorduras trans industriais em alimentos (RDC – 332/2019).
Com o objetivo de auxiliar na avaliação do resultado regulatório, previsto para 2026, a Agência financiou o estudo “Determination of trans-fatty acids in non-dairy foods using enhanced CZE-UV: Implications for food health assessment”, desenvolvido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A parceria foi executada por meio do Termo (TED 01/2022) firmado entre a Anvisa e a UFJF.
MÉTODO RÁPIDO, BARATO E SUSTENTÁVEL
O resultado da pesquisa foi o desenvolvimento de um método rápido, barato e ambientalmente sustentável para identificar gordura trans em alimentos.
O estudo, publicado no Journal of Food Composition and Analysis, vem sendo desenvolvido desde 2004 por um grupo de sob coordenação do pesquisador Marcone Augusto Leal de Oliveira, do Instituto de Ciências Exatas (ICE/UFJF), que estuda o tema há 25 anos.
“Nosso grupo realizou análises laboratoriais de produtos disponíveis no mercado, contribuindo diretamente para a avaliação da efetividade da regulação”, explica Oliveira.
RESULTADOS E IMPACTOS
A pesquisa propõe uma metodologia de baixo custo e sustentável que utiliza eletroforese capilar com detecção ultravioleta (CZE-UV) para identificar o ácido elaídico, principal marcador das gorduras trans industriais.
A técnica se destaca por ser mais ágil, menos trabalhosa e ambientalmente mais responsável, haja vista que aumenta consideravelmente o número de análises possíveis por hora.
QUÍMICA VERDE
Segundo Oliveira, o método representa um avanço porque além de diminuir os custos e aumentar a eficiência, evoca os princípios da Química Verde, uma abordagem que reduz ou elimina o uso de substâncias perigosas durante a fabricação e aplicação de produtos químicos.
“O estudo está em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável preconizados pela ONU, principalmente o objetivo número 12. Por ele, iniciativas devem assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis e especificamente pela meta 4, é preciso alcançar o manejo ambientalmente saudável dos produtos químicos e todos os resíduos. Essa metodologia poderá contribuir para futuras análises de alimentos no mercado sem prejuízo ao meio ambiente”, completa.
COMPARAÇÃO
Antes do desenvolvimento dessa nova técnica, as análises eram feitas por cromatografia a gás com detecção por ionização de chamas, um método tradicional considerado referência, mas que é mais caro, demorado e depende de vários insumos químicos.
“Quando se compara o método desenvolvido por eletroforese capilar com o método de referência, a mitigação dos gastos é substancialmente menor”, explica o pesquisador.
A pesquisa não inclui alimentos lácteos, já que o ácido graxo trans dos produtos derivados de animais ruminantes, chamado de ácido vacênico, é produzido naturalmente e em quantidade muito reduzida, não impactando à saúde humana de forma relevante.
“Para a seleção dos alimentos processados adquiridos, adotamos como critério a ausência de lácteos bovinos, tendo em vista que a medida regulatória da Anvisa foi restrita à gordura trans industrial, não sendo aplicada às gorduras trans naturalmente presentes nesses alimentos”, finaliza.
RISCOS DA GORDURA TRANS
De acordo com o último relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (2023), 5 bilhões de pessoas, em todo o mundo, permanecem desprotegidas da gordura trans, aumentando o risco de doenças cardíacas e morte.
“Não resta dúvida de que o consumo de ácidos graxos trans industriais, expressos em ácido elaídico, não traz nenhum benefício à saúde e é fator causal para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Dessa forma, seu consumo deve ser o mais baixo possível”, enfatiza o pesquisador.
Além disso, ele explica que as considerações seguem alinhadas à Anvisa, que reforça o impacto regulatório das restrições aos ácidos graxos trans.
“A adoção de medidas normativas para restrição dessas substâncias tem crescido e já representa a principal estratégia adotada no mundo para combater os efeitos adversos à saúde. A restrição é capaz de reduzir eventos e mortalidade, além dos gastos com saúde pública”, avalia.
PARCERIA E FORÇA DA PESQUISA
Segundo Oliveira, a Anvisa não desenvolve métodos de análise, mas recorre a laboratórios especializados que já dominam as técnicas de referência.
Por isso, a expertise do Grupo de Química Analítica e Quimiometria (GQAQ) da UFJF foi determinante para a parceria.
“Nosso grupo trabalha com a eletroforese capilar há 21 anos e isso nos permitiu propor soluções práticas e inovadoras para demandas de interesse público”, sublinha o pesquisador.
O desenvolvimento da análise também reflete uma trajetória contínua de pesquisa e formação.
De acordo com Oliveira, o método foi desenvolvido e aprimorado ao longo de 21 anos de existência do grupo, por meio de trabalhos de iniciação científica, dissertações de mestrado e teses de doutorado.
“Ao longo desses anos, formamos cerca de uma dezena de estudantes. Essa continuidade reforça a consolidação do grupo e a formação de recursos humanos”.
RELATÓRIOS
Para comprovar a eficiência da metodologia, a equipe entregou cinco relatórios durante o projeto, além de publicar o trabalho em um portal internacional, reconhecido mundialmente no campo da ciência de alimentos.
“A pesquisa teve como objetivo contribuir para a Avaliação do Resultado Regulatório sobre a norma que restringiu o uso de gorduras trans em alimentos, a ser realizada pela Anvisa em 2026. A estratégia de divulgação será definida pela Agência, conforme seus processos de trabalho”, sublinha Oliveira.
Clique aqui para ler o artigo completo.
Imagem em destaque: sede do ICE, na UFJF. Foto: divulgação UFJF
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