Jaca, pipoca, e alegrias solitárias. Por G.O.Aragão

E, com uma certa angústia, um desabafo lembrado em um domingo de Globo Rural, de isolamento social, e da realidade política que massacra.


ALEGRIA SOLITÁRIA
Por Geraldo Oliveira Aragão | Do Rio de Janeiro (RJ)

Vez por outra me pego criando alguma coisa sem previo planejamento e dá muito certo, a tal ponto de começar especular se a subestimação do objeto criado não é uma forma de preconceito ou de baixa estima.

Há cerca de 10 anos comprei uma jaca inteira no bairro carioca de Honório Gurgel e ao abri-la fiquei apreciando aquele apinhado de caroços e logo tomei a decisão de transformá-los em um exótico e saboroso purê, como se faz com as batatas ditas inglesas, troféu de vencedor, no dizer de Machado de Assis, mas, para comer puramente? De certo que não; ato contínuo fui intuído pelo instinto de sobrevivência que povoou minha infância, achei que seria uma casamento perfeito com uma língua bovina e assim se deu o enlace mais consistente. Uma aliança inquebrantável.

Tempos depois, para minha surpresa e alegria (solitária), lendo, despretensiosamente, a coluna social de um jornal carioca, encontrei reportagem que dava conta de que uma ‘socialite’ havia recepcionado um famoso estilista francês, cuja grife passa ao largo do meu bico, no bucólico bairro de Santa Tereza, regado a língua bovina com purê de caroços de jaca.

Neste domingo, 24 de maio, dia da batalha do Tuiuti, apesar do isolamento que nos faz perder a noção do dia da semana, não descuidei de um programa de televisão, um dos melhores do gênero: GLOBO RURAL, e lá estava sendo exibida uma maneira de fazer pipoca e o repórter a fazer vinculações filosóficas da pipoca com a fé cristã; de imediato lembrei-me que recentemente eu havia alinhavado um desabafo acerca das minhas deficiências, não por desvio moral mas pela pouca idade mental para assimilar tantos saberes em uma única existência ainda inconclusa.

Naquele desabafo, com uma certa angústia, diante da realidade política que nos massacra, somada ao vírus mortal que perdura, dizia eu, em rompante ideológico, sob título: Eu Múltiplo, onde destacava algumas qualidades de um Ser em progressão.

EU MÚLTIPLO
Arrimo das desilusões dos incrédulos;
grão encruado – colchão duro de quem pipocou.
Menino da cancela, pisoteado pelo fugitivo gado
eufórico em marcha ao matadouro…

Cada um, no seu campo de reflexão ,vai dando sentido filosófico aos fatos do quotidiano, com a linguagem que melhor traduza sua visão de mundo.


Imagem em destaque: ela, a jaca. Banco de imagens Shutterstock


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