Com samba que “pegou”, Unidos dos Morros leva o troféu em Santos

Disputa foi acirrada com a União Imperial e com a X-9, confirmando prognósticos. A caçula Mãos Entrelaçadas surpreendeu e terminou no G4 dos desfiles das escolas de samba santistas.


Por Wagner de Alcântara Aragão (@waasantista) | De Santos (SP)

A maior parte dos sambas-enredos “pegou” na avenida, nos desfiles das escolas de samba de Santos, no Carnaval 2020.

Um deles foi o da agremiação que, dias depois de se apresentar na Passarela do Samba Dráuzio do Cruz, teve na apuração a revelação do título deste ano: a Unidos dos Morros.

E muito da adesão das arquibancadas ao samba-enredo da Unidos dos Morros se deve ao intérprete, Ito Melodia, que mais uma vez – como ele próprio assume – “incorporou” e puxou o povo para desfilar junto com a escola que tem sede na Lagoa da Saudade, no Morro da Nova Cintra.

O enredo  – “Beleza de um eterno aprendiz” – fez referência ao Camps, tradicional entidade que atua na formação e inserção de adolescentes no mundo do trabalho, no litoral de São Paulo.

O samba contém um refrão que, nas paradinhas da Bateria Chapa Quente na avenida, era entoado pelo público, para deleite de Ito Melodia:

“Vai ecoar o grito do povo
É a voz do morro, que vem pra ficar
Unidos na mensagem que desperta
Avante! Sempre alerta

A bateria, aliás, foi outro show a parte da Unidos dos Morros. Com Camila Silva à frente (além de Rainha de Bateria da agremiação santista, ela neste ano integra a Corte Carnavalesca do Rio de Janeiro – é rainha do Carnaval de lá), a Chapa Quente estremeceu a Dráuzio da Cruz.

A Unidos dos Morros também caprichou em alegorias e fantasias.

A comissão de frente, que desde 2006 é coreografada por Renata Pacheco e é um dos pontos altos dos desfiles da agremiação da Cidade Alta, de novo correspondeu às expectativas e esbanjou leveza e sincronia.

Mas a Unidos dos Morros não reinou soberana.

Repetindo o que ocorre desde 2011, a disputa com X-9 – e, a exemplo dos últimos três anos, também com a União Imperial – outra vez foi acirradíssima.

A União Imperial veio imponente, com alegorias luxuosas e fantasias requintadas.

O enredo – uma referência a loucos e suas loucuras – foi extraordinariamente desenvolvido. Teve referência à ousadia de Joãosinho Trinta, ao Maluco Beleza Raul Seixas, ao Menino Maluquinho de Zirado, aos aficionados por futebol, entre outras representações.

Uma bruxa (um drone caracterizado como tal) sobrevoou a passarela.

Na dianteira da bateria, a rainha Viviane Araújo, estreando na escola e distribuindo sorrisos, simpatia e samba no pé, e a madrinha Scheila Carvalho, que há quatro anos desfila pela escola do Marapé.

Faltou, porém, um pouquinho mais de canto: o samba parece não ter sido compreendido pelo público, talvez porque estivesse impressionado com a plasticidade do desfile a que assistia.

Por outro lado, na concorrente X-9, o canto ecoou. Da comissão de frente ao último brincante, passando pela rainha da bateria, Francine Carvalho, o samba-enredo da escola do Macuco foi ouvido de todo mundo. Do público, principalmente.

Junto com a bateria, a evolução e a harmonia foram os pontos fortes d’ A Pioneira. Uma correnteza de cores e samba na avenida. Sem igual.

O enredo, sobre a história de Bertioga, começou muito bem apresentado pela comissão de frente – que encenou conflitos entre o colonizador europeu e os povos originários, os indígenas que há muito já se encontravam pela Costa Atlântica.

Ao final, porém, parece ter exagerado nas referências ao Natal comemorado na cidade litorânea. Isso causou certo estranhamento em parte do público.

Estreando no grupo especial, a Mãos Entrelaçadas surpreendeu ao ficar pertinho das três gigantes. Fez por merecer.

Começou com uma comissão de frente performática, seguiu com alegorias e fantasias caprichadas, e desfilantes para lá de animados.

“A responsabilidade de estrear [no grupo especial] é grande. Mas o mais importante é a diversão. Se a escola se divertiu, valeu”, declarou a presidenta, Elaine Rocha, enquanto, na dispersão, acompanhava a chegada do desfile.

Divertiu-se e divertiu a Mãos Entrelaçadas.

A quinta colocada, a Amazonense, fez jus à história de escola vibrante, de raiz. O enredo – “Quilombo do samba… coisa de pele” – foi bem desenvolvido.

A letra do samba, bem rica. A bateria, como é típico da escola de Vicente de Carvalho, fez a Dráuzio da Cruz sambar.

Sambou demais também o povo da Real Mocidade Santista. O intérprete Joãozinho conseguiu trazer as arquibancadas para cantar o samba-enredo junto.

“Ayo, o senhor dos tambores” tratou das manifestações culturais com batucada. O último carro alegórico trazia um telão com imagens do arquivo da escola, em referência aos 35 anos de vida da agremiação do Marapé.

A Dependente do Samba veio bastante brilhosa – e briosa.

O enredo (“Dos enigmáticos faraós negros – África Brasil”) veio traduzido num samba rico, consistente, denso.

Também sofisticado foi o samba-enredo da Vila Mathias. A escola acabou terminando na 8ª e última colocação, e ano que vem desfilará no grupo de acesso.

Foi a última a se apresentar, já às 6 da manhã, com o sol raiando. Mas isso não foi problema.

Abordando a diversidade, a partir da história de Dicésar, maquiador, ex-participante do programa Big Brother Brasil, a Vila Mathias veio colorida, animada, e enfática na denúncia contra o preconceito, no respeito às diversas formas de vida.

No Carnaval 2021, o grupo especial contará com a Sangue Jovem e a Brasil, respectivamente campeã e vice do grupo de acesso. A tradicional Padre Paulo confirma que vive a pior fase de sua história: foi rebaixada do grupo de acesso para o grupo 1.

O acesso, por sua vez, terá a participação da Unidos da Zona Noroeste, que levou o título no grupo 1.

CLASSIFICAÇÃO FINAL – DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA DE SANTOS

  • Grupo Especial
    1 – Unidos dos Morros – 179,6
    2 – União Imperial – 179,1
    3 – X-9 – 178,9
    4 – Mão Entrelaçadas – 177,8
    5 – Amazonense – 177,2
    6 – Real Mocidade – 177
    7 – Dependente do Samba – 176,2
    8 – Vila Mathias – 176 (*)
  • Grupo de acesso
    1 – Sangue Jovem – 178,3 (**)
    2 – Brasil – 178 (**)
    3 – Padre Paulo – 171,1 (***)
  • Grupo 1
    1 – Unidos da Zona Noroeste – 176,8 (****)
    2 – Imperatriz Alvinegra – 175,3 (****)
    3 – Bandeirantes do Saboó – 175
    4 – Império da Vila – 174,4(*) – Escola rebaixada para o grupo de acesso em 2021. (**) – Escolas que vão desfilar no grupo especial em 2021. (***) – Escola rebaixada para o grupo 1 em 2021. (****) – Escolas que vão desfilar no grupo de acesso em 2021

Os desfiles das escolas de samba de Santos ocorreram nos dias 14 e 15 de fevereiro, uma semana antes da data oficial do Carnaval. A antecipação ocorre desde 2016, para viabilizar o intercâmbios entre as escolas santistas e as de São Paulo e Rio de Janeiro.

A medida permite, por exemplo, que figuras como Viviane Araújo e Ito Melodia, participem dos desfiles da cidade; ao mesmo tempo, que os artistas locais integrem equipes das agremiações paulistanas e cariocas.

A apuração foi realizada nesta terça, dia 18.

Com o título de 2020, a Unidos dos Morros alcança a marca de três conquistas – as outras duas foram em 2014 e 2016.

A X-9 segue como a maior detentora de troféus: 19. O mais recente, em 2017.

A Brasil é a segunda maior vencedora da história dos desfiles das escolas de Santos: 11 conquistas (oito deles seguidos, entre 1956 e 1962, quando passou a ser chamada de Campeoníssima. O mais recente, em 2007).

É seguida de perto pela União Imperial, com dez (era atualmente bicampeã, 2018-2019).

Império do Samba (extinta), com oito troféus; Padre Paulo, com sete; Amazonense, com dois; e Sangue Jovem, com um, são as demais detentoras de títulos no Carnaval de Santos.


Imagem em destaque: início do desfile da Unidos dos Morros. Foto de @waasantista


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3 comentários sobre "Com samba que “pegou”, Unidos dos Morros leva o troféu em Santos"

  1. Está equivocada a informação que “Repetindo o que ocorre desde 2011, a disputa com União Imperial e X-9 outra vez foi acirradíssima. (Há oito Carnavais que as três primeiras colocações dos desfiles ficam com essas agremiações)”.
    A União Imperial ficou fora das 3 primeiras colocações de 2009 a 2018
    X-9 não ficou entre as 3 em 2016.

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