Os 50 anos do milésimo gol de Pelé e o clamor pelas crianças

Desabafo do camisa 10 do Santos e da seleção está, meio século depois, mais atual do que nunca. Tivemos avanços, mas estamos a retroceder.


Por Wagner de Alcântara Aragão (@waasantista) | De Curitiba (PR)

Vinte três horas e 23 minutos de 19 de novembro de 1969. Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro.

Pelé alcançava um feito que nenhum outro jogador de futebol chegara perto.

Anotava o milésimo gol de sua extraplanetária carreira.

Vestia a camisa do Santos Futebol Clube, e era uma partida pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão (o Brasileirão da época), contra o Vasco da Gama.

O alvinegro de Vila Belmiro venceria a peleja, com aquele gol histórico observado por todo o planeta: 2 a 1.

Assim que acertou as redes – uma cobrança de pênalti, sem chance para o goleiro argentino Andrada, arqueiro vascaíno – Pelé foi cercado por uma porção de gente, repórteres em sua maioria.

Carregado nos ombros pela galera, exibia a bola, companheira; chorava copiosamente.

Pelé, qual a mensagem a ser transmitida nesse momento? – ansiavam por saber os jornalistas e comunicar ao mundo pelos microfones das rádios.

O já Rei do Futebol então discursou:

“Pensem no Natal. Pensem nas criancinhas. (…) Volto a lembrança para as criancinhas pobres, necessitadas de uma roupa usada e de um prato de comida. Ajudem as crianças desafortunadas, que necessitam do pouco de quem tem muito. (…) Pelo amor de Deus, o povo brasileiro não pode perder mais crianças”, conforme transcreveu o Blog Terceiro Tempo, do jornalista Milton Neves.

À época, parte da elite tida como formadora de opinião desmereceu a fala do camisa 10 do Peixe e da seleção brasileira.

Considerou demagogia.

Passados 50 anos, não está evidente que Pelé estava certo no clamor?

Passados 50 anos, não estão atualíssimas as palavras do Pelé de 1969?

É verdade que, de lá para cá, não faltou luta, não faltaram iniciativas e ações em prol das crianças.

Os Cieps de Brizola, o Estatuto da Criança e do Adolescente, os conselhos tutelares, o bolsa família e outras políticas sociais de um período recente, tudo isso não pode ser diminuído como intento (exitoso) de assistir meninos e meninas deste país.

Todas essas conquistas, entretanto, estão sendo desmanteladas de 2015 em diante quando o obscurantismo, o reacionarismo, o racismo, o preconceito de classe e o ódio passaram a ser dominantes, conduzir os rumos da nação.

Pior.

Todas essas conquistas estão seriamente ameaçadas de desaparecerem por completo, com a política econômica desse ministro Paulo Guedes do atual governo – política essa que destrói o Estado para garantir a sobrevivência do mercado.

Estão tirando a aposentadoria dos avôs e avós, estão tirando os direitos trabalhistas dos pais, mães, tios, padrinhos e madrinhas, estão tirando verba do posto de saúde, estão tirando dinheiro das escolas, estão tirando do currículo os conteúdos que fazem as crianças crescerem como seres humanos – arte, educação física, filosofia, sociologia.

Estão até defendendo que criança trabalhe – só as pobres, lógico. Estão defendendo até que criança seja encarcerada – só as pobres, lógico.

Não vamos deixar isso acontecer, né?

É tempo de atender àquele pedido de Pelé.

Em tempo: os 50 anos do milésimo gol de Pelé serão celebrados com várias atividades, tanto no Santos Futebol Clube (confira aqui), como no Museu Pelé, no Valongo, em Santos (leia aqui), e no Museu do Futebol, no Pacaembu, em São Paulo (detalhes aqui).


Imagem em destaque: a comemoração de Pelé. Acervo www.santosfc.com.br.


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3 comentários sobre "Os 50 anos do milésimo gol de Pelé e o clamor pelas crianças"

  1. Excelente lembrança, cuidado tão necessário nos dias de hoje, estão destruindo a escola pública, como fizeram com os cieps do Brizola e Darcy Ribeiro. Triste realidade, um país que não cuida das crianças não tem nenhum futuro.

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