Queimadas na Amazônia: quem faz e por que

Fiscal ambiental, sob a condição de anonimato, explica como se dá a prática que há quase duas semanas está assustando o Brasil e o planeta.

Por Cida de Oliveira, da Rede Brasil Atual | De São Paulo (SP)

O processo de devastação da Amazônia, agravado com a onda de incêndios sem precedentes na história, não é responsabilidade da baixa umidade do ar, como entende o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (Novo-SP). Apesar da seca, há mais umidade na região amazônica hoje do que havia nos últimos três anos, conforme estudo da Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Também não é de responsabilidade de ONGs ambientalistas ou de governadores da região Norte, como disse nesta terça, dia 21, o presidente Jair Bolsonaro (PSL).

A onda de incêndios é resultado da ação de ruralistas que avançam seus domínios sobre a floresta, com o objetivo claro de transformá-la em pasto e assim fazer negócios lucrativos.

Um fiscal de uma instituição pública ligada ao Ministério do Meio Ambiente, que por razões óbvias pede para não ser identificado, explica por que a queimada é um bom negócio para os grandes ruralistas:

“Queimadas são a segunda ferramenta usada na destruição da floresta. Primeiro se retira o filé, que é a madeira. Quando seca o que sobrou, põe fogo. Nessa terra degradada é colocado o capim para se ter o pasto. É o processo de transição da floresta para pasto”.

[Houve até um “Dia do Fogo” promovido no fim de semana de 12 e 13 de agosto. A ação foi realizada por fazendeiros situados às margens da BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA). Tal absurdo ocorrreu porque os devastadores estão se sentido respaldados pelas falas e pela forma com que Bolsonaro e Cia. conduzem a política ambiental no país.

Queimadas até são previstas, mas absolutamente controladas e sob autorização de órgãos ambientais. O fiscal ambiental explica que, entretanto, tudo está sendo desrespeitado]:

“Não é mais o Ibama que autoriza as queimadas, mas os estados. E nesse período crítico como agora, agosto, setembro, são proibidas em vários deles. Nesse período a legislação local não autoriza queima nenhuma. As queimas que acontecem, de um modo geral, são irregulares, aproveitando-se da época em que a seca está mais intensa”, afirma o fiscal.

Incêndios em áreas privadas ou em disputa judicial são combatidos pelo Corpo de Bombeiros dos estados. Em unidades de conservação, terras indígenas, territórios quilombolas e áreas de assentamento do Incra são responsabilidade do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), vinculado ao Ibama. Há casos em que os dois serviços atuam em conjunto.

Custeado em grande parte com recursos do Fundo Amazônia [criado em 2008 pelo Governo Lula, com Marina Silva no ministério do Meio Ambiente], o PrevFogo deverá enfrentar dificuldades com mudanças no caixa, principalmente depois que Noruega e Alemanha anunciaram bloqueios em seus repasses. O Fundo financia também projetos dos bombeiros de alguns estados, como de Mato Grosso, estado dos mais afetados pelas queimadas.

A situação é grave.

Duas pessoas morreram em Rondônia no último dia 14, tragadas pelas chamas. Há animais mortos por toda parte, mata destruída e fumaça que se espalha por milhares de quilômetros, atravessando estados, levando doenças respiratórias. Em vez de transferir recursos urgentes para o combate às chamas e à prevenção de novos incêndios, com mais fiscalização às derrubadas, Bolsonaro põe a culpa na conta de siglas que ele nem sabe quais são.

Imagem em destaque: queimada na Amazônia, no Pará. Foto de Daniel Beltrá/Greenpeace


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